Quando se fala em esgotamento no trabalho, o burnout é logo a resposta nos vem à cabeça. No entanto, o estado de exaustão provocado pelo excesso de tarefas, pressão constante e falta de equilíbrio, não é o único diagnóstico.
Embora que mais silencioso e menos falado, o boreout, que nasce não do excesso, mas da ausência de motivação, pode ser a causa desse tédio no trabalho. É um fenómeno cada vez mais comum em ambientes profissionais onde impera a monotonia.
“O boreout é uma forma de esgotamento emocional que nasce do tédio, da falta de desafio e da sensação de inutilidade no trabalho”, explica Jéssica Nunes, psicóloga clínica. “Ao contrário do burnout, aqui o problema é a ausência – de estímulo, de sentido, de motivação".
Este tipo de sofrimento pode parecer contraditório num mundo onde tantas pessoas se queixam de excesso de trabalho. No entanto, a falta de envolvimento e de propósito também adoece.
Os sintomas mais comuns incluem: apatia, desmotivação, cansaço persistente, irritabilidade e uma sensação constante de estar a desperdiçar o tempo e o próprio potencial.
“Muitas vezes, a pessoa começa a duvidar de si própria e até a sentir culpa por se sentir assim”, acrescenta a especialista. Não é raro que o boreout evolua para insónias, ansiedade e sintomas depressivos.
Como prevenir este tipo de esgotamento? Jéssica adianta que passa pela criação de ambientes de trabalho mais estimulantes, com espaço para autonomia, reconhecimento e sentido.
“Ter espaço para usar as próprias competências e sentir que se está a contribuir faz muita diferença”, defende. Do lado individual, o autoconhecimento e a procura ativa de propósito profissional são ferramentas importantes para manter a motivação e o bem-estar.
Já o tratamento começa com o reconhecimento do problema — e, acima de tudo, sem julgamentos. Falar com um psicólogo pode ser o primeiro passo para compreender o que está em falta e traçar um plano de mudança.
“Às vezes bastam pequenos ajustes no dia a dia; noutras, é preciso repensar todo o percurso profissional. O importante é validar o mal-estar e agir antes que ele se torne mais profundo”, conclui.