Como identificar padrões narcisistas numa relação (mesmo quando parecem charme)

Fique a conhecer os conselhos da psicóloga Ana Isabel Ferreira.

Saúde e bem-estar

 "O narcisista não sofre por amor. Sofre por perda de controlo."

É uma frase dura, mas descreve com precisão um padrão que muitas pessoas só reconhecem depois de muito tempo de desgaste emocional. Muitas relações com traços narcisistas começam bem. Há encanto, atenção intensa, envolvimento imediato.

O nome técnico para isso é Love Bombing: uma fase inicial em que a pessoa mostra um lado altamente sedutor, disponível, envolvente. Parece a "pessoa certa". Mas essa versão idealizada tem prazo de validade. À medida que a ligação se aprofunda, o narcisista passa a:

  • Interromper constantemente;
  • Desviar conversas importantes para si mesmo;
  • Usar piadas para humilhar em público;
  • Recusar reconhecer o impacto das suas atitudes;
  • Dificultar que o outro seja visto, ouvido ou celebrado.

Num programa recente, Casados À Primeira Vista, foi visível este padrão. A parceira partilha, com naturalidade e carinho, algo importante: o amor pelos netos. A resposta do companheiro? Um desvio abrupto de assunto, com tom de desdém e ironia. Não foi uma simples mudança de tema. Foi uma tentativa clara de tirar a atenção dela e recentrar tudo nele.Isto não é apenas má educação. É um mecanismo emocional típico:

  • O narcisista não tolera ver o outro como protagonista emocional.
  • Os sentimentos do outro são uma ameaça à sua posição de controlo.

Para este tipo de personalidade, o outro não é visto como indivíduo. É apenas uma extensão do próprio ego, uma peça que serve, valida ou é descartada. E quando o outro tenta mostrar o que sente, o narcisista reage com frases como:

  • "Estás a exagerar";
  • "Não foi isso que eu disse";
  • "Estás a imaginar coisas".

Este mecanismo tem nome: gaslighting, manipulação emocional que leva a vítima a duvidar de si mesma. Se sentes que numa relação estás sempre a tentar "provar" o que sentes, ou constantemente a justificar-te, ou a pedir para ser ouvida(o)… Pára. Observa. Repara nos padrões. Reconhecer estes sinais é o primeiro passo para quebrar um ciclo que esgota e destrói.

Ana Isabel Ferreira, psicóloga 

Nota importante: Este artigo é uma reflexão baseada na observação pública de comportamentos e discursos, com fins informativos e de consciencialização. Não se trata de um diagnóstico psicológico, nem pretende substituir uma avaliação clínica individualizada. A análise apresentada refere-se a traços de comportamento e não deve ser entendida como uma rotulagem da identidade de qualquer pessoa. Todos os seres humanos são complexos e merecem ser vistos na sua totalidade.