Na nossa zona de entrevistas rápidas – sim, o tempo já começa a escassear nesta contagem decrescente para a grande gala do ano – falámos de fugida com o ‘verdadeiro artista’ e ficámos a saber que, no final da gala, a impressão que perdura se assemelha com a sensação pós-orgásmica. É verdade. Saiba tudo já de seguida.
Paletes de reconhecimento
Um total de 12 Globos de Ouro, um deles conquistado na primeira edição dos prémios, quatro dos quais ganhos em dose dupla em 1997 e 1998, e um de Mérito e Excelência, em 2007. Ao palco desta gala, que conhece de ginjeira, subiu ainda como anfitrião, sendo um dos apresentadores mais marcantes da própria cerimónia. Herman José é, por tudo isto e por outro tanto que fica por dizer, figura incontornável quando se fala de Globos de Ouro, para os quais volta a estar nomeado este ano, na categoria Humor Personalidade do Ano. As desejadas estatuetas são símbolo do reconhecimento coletivo de um humorista que ocupa há décadas lugar cativo na memória de um país inteiro. É dele o humor de que hoje nos rimos. É dele o léxico de expressões de que nos apoderámos. Foi ele quem nos ensinou a rir com inteligência e foi ele quem nos mostrou que tudo pode ter piada, mesmo quando muitos não acham graça. Herman desafiou-nos e desafiou-se. Por fim, ou nem perto disso, é o nosso mais votado ‘presidente da junta’, mesmo quando ‘ele é mais bolos’. Na gala que há 25 anos se propôs celebrar o talento nacional, do qual Herman José é o digno porta-estandarte, a sua presença será sempre de honra.
Ele é que é o presidente da junta
Só talento não basta. Todos o sabemos, mais ainda os profissionais que mais alto se elevam na sua área de atuação, seja ela qual for. Trabalho, dedicação e ambição são necessários para alcançar a permanente superação de metas e patamares e continuar a surpreender. Não é de admirar, por isso, que Herman José tudo supervisione e esteja presente em todas as fases de conceção e elaboração dos seus textos, mesmo quando resultam de coautorias. Por isso, e sem surpresas, quando indagámos o que tinha sentido quando pela primeira vez foi convidado para apresentar os Globos de Ouro referiu, precisamente, a oportunidade de ser timoneiro dessa aventura, e chamar a si a escrita dos textos. “Foi uma dupla alegria, porque nessa edição acumulei a apresentação com a coautoria e a produção, a cargo de uma empresa de que era sócio: a HZP.” Uma memória viva, que guarda com informação preciosa, da qual já quase não tínhamos registo: “Foi a primeira edição dos Globos sem convidados internacionais.” Com Herman e outros talentos nacionais em palco, nem e deve ter dado pela falta.

Afinal, não é mais bolos
Ainda que se pudesse achar que com o seu talento, ritmo, experiência e capacidade de improviso, a apresentação de um direto pudesse ser encarada com alguma ligeireza, ou maior descontração, Herman deixa claro que exige de si o melhor que consegue em cada desafio. “Todas as edições que apresentei tinham textos meus em coautoria, o que implicou sempre muita entrega, muito rigor e muito trabalho”, frisa, deixando claro o brio que coloca em tudo aquilo que faz, ainda que o faça vezes sem fim.
Razão pela qual a preparação é exaustiva e pormenorizada. Pior do que tudo, quando nunca se dá por cabalmente terminada. “O grosso do tempo era passado em frente ao computador, sofrendo da síndrome da ‘página em branco’”, confessa o humorista, que, já se percebeu, prefere deixar as piadas para o palco.
Uma concentração tal que, no seu caso, deixa os ‘bolos’ para depois. “Nunca janto antes das atuações”, revela, mas não se condoam já com tamanha dedicação, pois se algo sabemos sobre Herman, além de que sabe como fazer-nos rir, é de que sabe igualmente apreciar a vida e é do conhecimento geral que o humorista é um assumido bom garfo. “Adoro vingar-me com uma boa ceia.” Voilá! Primeiro o dever, depois o prazer.
Caturreira!
Apresentar a Gala dos Globos de Ouro, um dos diretos mais exigentes da televisão nacional, perante os seus pares, público e uma audiência que nem se consegue medir em paletes, é bom de ver, não se resume a ter bons textos e a seguir o teleponto. Implica estar atento ao que se passa no palco e fora dele, coordenar tempos, entreter, manter a dinâmica do evento e em alta a atenção do público, a quem ainda se faz rir, e essa é uma arte que poucos dominam. Coisa de verdadeiro artista, claro, e sobre este assunto Tony Silva não nos deixa mentir. Ainda assim, Herman José diz ter capacidade de apreciar a noite. “A festa é tão rica, que mesmo no meio da responsabilidade e da concentração, se consegue usufruir de tanta e tão ilustre companhia.” Ainda bem que assim é, ou não fosse Herman José a ‘tia da caturreira’. Pois esta, a caturreira, claro, é garantida sempre que Herman pisa o palco, mesmo um tão solene quanto o dos Globos de Ouro. Na memória, na sua e na nossa, guardam-se momentos também eles de ouro: “Saliento dois: aquele em que me mandei à Alexandra Lencastre, e outro em que peguei no Jorge Palma às cavalitas.”

Não havia necessidade
O mais assustador para qualquer técnico ou apresentador envolvidos num direto televisivo, são imprevistos, falhas e erros, seja qual for a sua natureza: técnicas, de memória, mero nervosismo… Dessas, Herman não tem para contar, mas recorda, como o envolvimento do seu nome no mediático processo Casa Pia, colocou outros holofotes sobre si. “Falhas não vivi, mas lembro uma edição onde passei a manhã a dar declarações no âmbito de um processo de má memória.”
O Nelo ia passar-se!
Esclarecidos os detalhes mais técnicos e resolvida a questão do jantar, passamos agora aos ‘trapos’ e à beleza. É neste ponto que Nelo – a coquete e tolamente deliciosa personagem a que Herman dá vida – poderá ter alguns sobressaltos. Se é certo que do guarda-roupa de Herman trata o próprio, cabendo-lhe sempre a decisão do que veste quando atua – Nelo aprovaria a 100% – já a tratar de cabelo e maquilhagem, por exemplo, Herman não dedica particular atenção, ou antes, não se demora no assunto. “Sou muito prático e muito pragmático”, admite Herman José. "Nelo discordaria a 100%", aponta.
No final, quando a banda deixa de tocar, as cortinas do palco se cerram e as luzes se apagam, a sensação que experimenta só é equiparada a uma outra, como confessa Herman: “A mesma que se tem depois de uma noite de lua de mel. Encantamento e satisfação.” Como se não bastasse esse momento de prazer, a seguir vem ainda a tal ceia.