Luís Carvalho e a nossa 'red carpet': “Tento que as pessoas se sintam especiais e com atitude”

No atelier do estilista trabalha-se desde julho em algumas das criações que, imaginamos, darão que falar na próxima edição dos Globos de Ouro, como sempre acontece.

Globos de Ouro/Gala XXI

Tomás Monteiro

Cerca de 30 metros de tecido é uma média – ainda que não rigorosa, que a contabilidade do artista não passa por essa fita métrica – da quantidade de tecido que gasta anualmente nos vestidos que cria propositadamente para a gala da SIC/Caras.

É responsável por introduzir o macacão como traje de gala feminino, em 2015, e por conferir à gala dos Globos de Ouro uma certa pompa hollywoodesca. Na edição deste ano, o próprio criador volta a estar nomeado, na categoria Moda Personalidade do Ano, depois de, em 2017, ter vencido o Globo de Ouro de Melhor Estilista.

Claro que tínhamos que entrevistar Luís Carvalho.

Hollywood aqui tão perto

As suas criações feéricas, mas elegantes, garridas, mas sofisticadas, dramáticas, mas sedutoras. Poderíamos continuar com mais alguns contrastantes binómios, mas já deu para perceber que as criações do estilista Luís Carvalho oscilam entre uma evidente exuberância e um extraordinário bom gosto. Tudo rematado com delicadezas de mestre e pompas de gala, num efeito final que se cola inevitavelmente a todos os álbuns e galerias da imprensa nacional. Quase podemos recordar os Globos de Ouro em função de algumas das criações do inspirado Luís Carvalho. Mas já lá vamos, pela mão do próprio.

Os modelos de Luís Carvalho são peças memoráveis, de volumetria arquitetónica, todas elas em total rendição ao corpo feminino, que idolatram, e ao carácter de quem as veste. As suas ousadias têm encontrado um eco extraordinário nos Globos de Ouro, a gala das galas nacionais, e nas muitas figuras públicas que procuram as suas criações, há já vários anos. Algumas clientes assumem o papel da ‘coautoria’, dando indicações precisas, que o estilista interpreta ao seu modo e maneira, mas os resultados mais inebriantes surgem quando Luís carvalho parte sem destino, apenas ele e a sua criatividade. A parceria que tem feito com atriz Inês Castel-Branco – uma parceira irreverente e à altura da genialidade do estilista – surge-nos, gala após gala, como um verdadeiro tubo de ensaio do muito que o costureiro é capaz de fazer e do muito que a atriz consegue interpretar, mesmo numa passadeira vermelha. Surgem-nos à memória as nova-iorquinas Met Gala, onde facilmente imaginamos, quer Luís Carvalho, quer Inês Castel-Branco.

Vontade de superação

Este ano não deverá ser diferente e Luís Carvalho, que tem por lema superar-se e surpreender a cada trabalho, está desde julho a confecionar vestidos (serão mesmo só vestidos?) para a grande noite dos prémios dourados.

O que mais lhe pedem: conforto ou glamour?

Depende muito da pessoa e da condição e quando digo condição, refiro-me ao facto de já ter vestido duas grávidas para os Globos de Ouro – a Cláudia Vieira e a Sofia Cerveira. Mas acho que é importante conseguir aliar as duas coisas, desenhar algo confortável, mas ao mesmo tempo digno de uma red carpet.

Sofia Cerveira
DR

A cada ano, qual é, em média, o número de metros de tecido envolvidos nas suas criações para os Globos de Ouro?

Esse é um número muito relativo, porque depende muito dos vestidos que faço e do número de pessoas que visto, mas vamos dizer que é uma média de 30 metros.

O modelo que mais o orgulha ainda hoje?

Orgulho-me de vários e por razões diferentes, mas acho que o que mais se destacou ou que impulsionou o meu nome foi o look criado para a Inês Castel-Branco em 2015, o macacão preto, pela sua irreverência e por, na altura, ser invulgar uma mulher usar calças numa red carpet.

2015
FOTOGRAFIA: Pedro Jorge Melo

Qual considera ter sido o modelo mais arrojado/extravagante que já criou para a gala dos Globos de Ouro?

O mais extravagante foi, sem dúvida, o vestido verde que fiz para a Inês Castel-Branco em 2018.

Já recusou um vestido?

Sim, já tive de recusar alguns...

Por que razão?

Porque, felizmente, a procura tem sido cada vez maior, o que leva a mais trabalho e o tempo não me permite corresponder a todos os pedidos.

Tem liberdade total ou há muitas sugestões por parte das clientes?

Algumas dão-me liberdade total para criar o que eu idealizo, outras já vêm ter comigo com algumas referências, e em alguns casos é um processo mais orgânico, onde se funde a minha visão e a da pessoa que vou vestir.

Este ano, já está a trabalhar para a Gala? Desde quando?

Sim, já estou a trabalhar desde julho para a próxima gala. Sou muito organizado e como a gala vai coincidir com a semana de apresentação da nova coleção na ModaLisboa, tudo tem de ser pensado e organizado atempadamente.

O que se pode esperar das suas criações?

Eu gosto sempre de fazer algo inesperado ou, pelo menos, de tentar superar o que fiz nos anos anteriores. Tentar sempre manter a minha identidade e fazer com que as pessoas que vestem as minhas criações se sintam especiais e com atitude, na red carpet, ou em qualquer ocasião que vistam Luís Carvalho.