Ainda que há muito se tenha mudado para a RTP, Catarina Furtado continua a ser um dos rostos que automática e inequivocamente se associa às galas dos Globos de Ouro, cuja apresentação teve a seu cargo desde a primeira edição, em 1996, e a qual asseguraria ao longo de seis edições consecutivas. Não foi apenas o rosto e o profissionalismo que entregou no palco dos Globos, também lá deixou a sua marca, a sua sensualidade e até alguns passos de dança, em pequenos apontamentos artísticos que lhe permitiam dar voz a outras das suas paixões: a dança, a música e a representação.
Nervosismo e alguns apertos no coração, por conta de delays no teleponto, por exemplo, fazem parte do leque de memórias que guarda, mas nunca nada de que o público se apercebesse. Quando alguma coisa falhava, Catarina soube sempre improvisar e contornar as situações com ligeireza, não obstante ser, então, menos experiente, como avalia agora.
Enfrentar um longo direto, com a magnitude de uma das galas mais vistas em Portugal não é tarefa de somenos importância e apenas um sorriso e algum improviso não resolvem tudo, pelo que neles Catarina Furtado não se fia em exclusivo. Preparação, concentração e rigor são necessários e a eles a apresentadora soma ainda um fator extra: exigência. Acima de tudo, Catarina Furtado é exigente consigo mesma e isso implica olhar os detalhes, acautelar ao máximo o imprevisível e estar muito bem preparada e informada acerca de tudo: convidados, plateia, decisões técnicas… Em cima do palco, mesmo para quem é um comunicador nato, informação é poder e Catarina gosta de se preparar ao milímetro, com rigores de laboratório. Fatores que denunciam o seu profissionalismo e brio, os quais jamais descurou, e por isso continua a ser uma apresentadora requisitada para alguns dos mais importantes eventos, incluindo diretos televisivos de enorme responsabilidade, onde se soma a apresentação dos Festivais da Canção.
Há muito, porém, que a vida profissional de Catarina Furtado não se fixa apenas na televisão. Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, desde 2000 e fundadora da associação Corações Com Coroa são atividades humanitárias a que se entrega de corpo e alma e onde dá voz a quem não é ouvido. Letrista de alguns êxitos que perduram na memória coletiva, atriz de cinema e televisão, autora de contos infantis são carreiras que tem igualmente alimentado ao longo dos anos.
Um percurso pleno e bem-sucedido que começou com a formação na Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa, passou depois pelo CENJOR e o jornalismo, quando teve de interromper a dança, e que não tardou a conquistar o coração dos portugueses, onde habita em permanência há tempo mais do que suficiente para não ser considerada uma pessoa ‘de casa’, de todas as casas.
Uma das portas de acesso a esse lugar cativo foi precisamente os Globos de Ouro, pelo que esta breve conversa sobre esse início assume o caráter de viagem ao passado. Apertem os cintos, que o que se segue começa ainda no século passado, ainda que pareça ter sido apenas ontem.
Qual a primeira sensação quando se recebe o convite para apresentar a Gala dos Globos de Ouro, um direto com uma imensa audiência?
Foi sempre de grande nervosismo, porque queria estar à altura da cerimónia e da importância que os Globos têm para a estação. Sempre fui extremamente exigente comigo e, por isso, tento preparar-me ao milímetro em cada trabalho e naquela altura era ainda menos experiente, pelo que tinha em cima de mim um peso maior. Mas a verdade é que os anos de profissão passam mas o meu sentido de responsabilidade não diminui.
Como se prepara? Há um guião, textos para ler ou decorar, posições a memorizar.
Há sempre um guião para lermos vezes sem conta, mas eu tento sempre saber informações sobre os convidados ou nomeados, para a eventualidade de poder improvisar. O improviso pressupõe sempre que se dominem as informações paralelas. Em termos técnicos, é sempre bom conversar com o realizador (e restante equipa) e, depois, é deixar fluir, também com a energia que vamos recebendo do público.
Quanto tempo implica essa preparação? Quantos ensaios em frente ao espelho e quantos em palco antes da hora marcada?
Não faço ensaios em frente ao espelho. Quando apresentei os Globos já foi há muito tempo. Não me lembro de quantos ensaios tive. Essas questões dependem das diferentes produtoras que produzem o evento.
Estar em palco a comandar tempos, a seguir o teleponto e a dar atenção ao que acontece fora do teleponto e do palco, faz com que seja um daqueles ‘dias de noiva’, em que se está tão atento a tudo que nem se desfruta, ou dá para apreciar a gala e ver caras conhecidas na plateia?
Dá sempre para apreciar, porque apesar da responsabilidade, há também a noção clara de que estamos a fazer algo que foi uma escolha nossa: comunicar. Sou muito grata por poder fazer aquilo de que gosto.
Quais os momentos mais divertidos que viveu no palco dos Globos de Ouro?
Sempre os improvisos, que são fruto também do à-vontade dos convidados, e quando dancei nas aberturas, que é outra das minhas grandes paixões!
Há falhas cometidas de que ninguém mais se dá conta? Tem episódios que queira partilhar?
Há, claro. Quando, por exemplo, o teleponto faz greve durante uns breves segundos e temos de improvisar. O público nem nota!
Janta antes ou apenas depois de tudo terminado?
Janto antes algo leve, sopa e banana ou ananás, e depois faço uma ceia.
Quanto tempo demora a preparar-se: guarda-roupa, maquilhagem, cabelo…?
Normalmente, uma hora e meia, sendo que os vestidos foram provados muitas semanas antes. Aqui, tenho de fazer uma homenagem com muita saudade à Manuela Tojal, que me vestiu muitas vezes para os Globos (entre outros designers portugueses), mas que já nos deixou e que foi uma pessoa muito importante para mim, inclusivamente fez o meu vestido de casamento.
Quem decide o guarda-roupa?
Sempre eu com o criador. Mais ninguém. Hoje em dia, nas galas que apresento – e não nos Globos porque trabalho com a RTP –, é o Nuno Baltazar quem me veste.
Prefere um vestido feérico ou um confortável?
Depende! Tenho várias Catarinas dentro de mim.
Qual a sensação que se experimenta quando tudo termina?
Se correu bem, é celebrar e agradecer à equipa que tornou possível tudo. Precisamos sempre uns dos outros. Ao longo destes 30 anos a fazer TV, tenho tido a sorte de ter grandes profissionais ao meu lado, que também me desejam o melhor. Faço sempre um balanço de tudo.