Esta quinta-feira, 24 de março, faz um mês desde que se iniciou a invasão russa à Ucrânia. Desde então, várias cidades do país têm sido constantemente bombardeadas, invadidas, destruídas, ao mesmo tempo que militares e civis perdem a vida a tentar defender um território que lhes pertence.
Um jornalista da Associated Press, Mstyslav Chernov, relata agora os seus últimos momentos na cidade de Mariupol, umas das mais atingidas pelo clima de guerra que se instalou na Ucrânia. Um dos últimos jornalistas a abandonar a cidade, juntamente com o colega Evgeniy Maloletka, os dois descrevem os momentos finais no local, no meio de ataques, e na mira russa para os impedir de continuar a cobrir o conflito.
“Os russos andavam literalmente atrás de nós, para nos apanharem”, começa por contar Mstyslav, citado pela revista People. “Eles tinham uma lista de nomes, onde se incluía o meu e o do meu colega. E estavam-se a aproximar”, escreveu, num artigo da Associated Press publicado esta terça-feira, dia 22 de março.
Enquanto faziam cobertura de um ataque num hospital local, e vestindo um uniforme de camuflagem, Chernov recordou uma invasão de soldados ucranianos, que questionavam “onde estão os jornalistas”, em tom agressivo.
“Olhei para as braçadeiras que traziam, azuis, cores da Ucrânia, e tentei calcular se havia hipóteses de que fossem soldados russos disfarçados. Ainda assim, dei um passo em frente para me identificar. ‘Estamos aqui para o tirar daqui’, disseram”.
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Chernov acrescentou: “Corremos para a rua, abandonando os médicos que nos abrigaram, as mulheres grávidas que tinham sido atingidas pelos bombardeamentos, e as pessoas que dormiam nos corredores porque não tinham para onde ir. Senti-me terrível por deixá-los para trás”, assumiu.
Apesar de ter implorado para permanecer no local, os oficiais ucranianos lembraram os jornalistas de que permanecer no local seria uma sentença de morte.
“Sem nenhuma informação a sair das cidades, sem fotos dos prédios demolidos e de crianças a morrer, as forças russas poderiam e podem fazer o que querem. Se não fosse graças ao nosso trabalho, não haveria nada. É por isso que corremos tantos riscos, para poder mostrar ao mundo o que vimos, e foi isso que deixou a Rússia com tanta raiva, o suficiente para nos mandar apanhar”, revelou o jornalista.
“Eu nunca, nunca senti que quebrar o silêncio fosse tão importante. Mas, podíamos morrer a qualquer momento”, confessou Mstyslav Chernov à mesma publicação.
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