Está a viver dias cheios, intensos e também cansativos. Com mais de 60 concertos agendados para este ano, Fernando Daniel falou com o site do Fama Show a partir do seu estúdio, em Ovar, numa conversa sobre a sua carreira, família e a nova forma de se aproximar dos seus fãs.
Depois de um ano arrasador para a Cultura em Portugal, em 2020, e do ano ainda incerto que se seguiu, o cantor sente tem sentido a efervescência dos fãs em verem concertos. “Tem corrido super bem e é fruto de toda a sede da indústria de ter espetáculos, mas também do público em querer atuações ao vivo. Tem sido uma loucura”, afirma num tom positivo.
“A minha vida mudou ao contrário”
Com uma equipa que trabalha quase exclusivamente consigo, Fernando Daniel reconhece que a pandemia serviu como uma ‘espécie de limpeza’ onde vários postos de trabalho e empresas de som e imagem não sobreviveram. “Há algumas que estão agora a começar, mas é um passo de cada vez e chegaremos lá”, adianta sobre a falta de vínculo laboral associada aos profissionais do ramo.
Depois de dois adiamentos, fruto da pandemia, o cantor estreou-se finalmente numas das salas de espetáculo mais desejadas pelos músicos nacionais, os coliseus do Porto e Lisboa. “Foram incríveis. Viveram-se momentos que estavam a ser aguardados há dois anos e respirou-se de alívio”, explica sobre as duas noites que eram objetivo da sua equipa e um sonho seu.
Os dois concertos – dos mais marcantes da sua carreira – foram gravados. “Estamos a ver a melhor forma de os apresentar. Dá mesmo para ver a intensidade com que tudo estava a ser vivido”, citando a televisão ou streaming como possíveis apostas.
A fama e o seu’ último dia normal’
Entre as sessões de estúdio – há novo álbum a caminho – concertos, e as gravações do The Voice Kids, será que Fernando Daniel tem tempo de parar e olhar para o que conquistou? “Não preciso de parar muito para perceber, na verdade. A minha vida virou ao contrário, mas a nível pessoal não houve grande mudança. Não sinto que [a fama] me tenha subido à cabeça e creio que não será agora, aos 26 anos, que acontecerá alguma coisa.
“Eu todos os dias, quando vou para o estúdio trabalhar, olho para um galardão ou para os prémios nacionais e internacionais (como o MTV Europe Music Award) e vejo que são coisas que me fazem ver que estava certo. Em trabalhar, em focar-me nisto e ver que algo melhor estava por vir”, revela com orgulho.
Fernando Daniel tornou-se conhecido dos portugueses e do mundo quando pisou o palco das provas cegas do The Voice Portugal, em 2016. A sua audição viria a ser a mais vista em todo o mundo (hoje é a segunda com mais visualizações) e desde aí nunca mais parou.
“O meu último dia normal foi o de 10 de julho de 2017. É quando eu lanço o ‘Espera’. Fui para Lisboa com o meu carro, e os músicos, não tinha um condutor, não havia esse glamour todo”, começa por se recordar.
A viagem fazia-se de Ovar, distrito de Aveiro, e ficou hospedado num hotel nos Olivais, em Lisboa, curiosamente o mesmo sítio onde ficou fez a audição para o talent show no ano anterior.
O tema, Espera, preparava-se para sair à meia-noite no Spotify. Fernando Daniel não conseguia dormir e por uma boa razão. Em meia hora, o tema estava no topo do iTunes em Portugal. Segundo o cantor, em apenas algumas horas, a canção superou os números que as suas covers conquistaram em meses.
“Em menos de uma semana já tinha meio milhão. Era uma coisa estrondosa e percebi que a minha vida estava prestes a mudar. Algo bom está prestes a acontecer”, pensou. E assim foi. Hoje o vídeo alcançou mais de 26,6 milhões de visualizações. O tema é aquele com que costuma encerrar os seus concertos. “Não preciso de dizer qual é, bastam os primeiros acordes para os fãs reconhecerem”, assume.
O túnel da estação de comboios onde quer regressar
Antes da sua carreira explodir, Fernando Daniel cantava e sonhava num túnel da estação de comboios de Estarreja, de onde é natural. Ali, da linha 1 para as linhas 2 e 3, soltava a voz como qualquer adolescente músico que se imagina viver da profissão.
“Na altura não tinha oportunidade de ir para um estúdio e fazia ali um ‘efeito casa de banho ‘- o chamado reverb – era quase como um palco. Custa-me não ter tempo para regressar a essa estação de madrugada e olhar para o sítio onde eu sonhava. Parece que foi ontem, mas muita coisa mudou mesmo”, diz em tom nostálgico, sobre o local que ainda não revisitou desde a sua carreira.
Dos concertos onde muitas vezes recebia, assim como os elementos da sua equipa, 50 a 100 euros para os espetáculos esgotados com milhares de pessoas. Este ano, no início do mês de junho, introduziu uma mudança na forma como interage com os seus fãs.
A nova proximidade com o público
Em cada concerto, o cantor promete privar com 30 fãs (que levam sempre mais uma pessoa), uma decisão que partiu de uma ideia sua, antes de abordar a manager e a Universal. A medida surgiu depois de Fernando Daniel notar que nas digressões de 2018 e 2019 passava entre três a quatro horas só em fotografias com o público.
Com uma agenda cheia de espetáculos, o tempo retirava descanso ao artista que tinha de viajar para outra localidade e, segundo o cantor, punha em causa a mesma qualidade do próximo concerto. “Era um grande desgaste acumulado em que os meus fãs também não tiravam o máximo proveito do espetáculo”, confessa.
Fernando Daniel tem assim hora ou hora e meia para estar com os fãs, enquanto o palco é montado, por exemplo. “Tem corrido super bem e respeitam imenso. É uma forma mais próxima de estar com eles”, sublinha, notando que Diogo Piçarra já o fez e que os Calema já o abordaram sobre a experiência.
O sítio onde quer ver os filhos crescer
Apesar de viajar para o Porto e Lisboa para a promoção dos seus projetos, o artista de 26 anos sempre soube que era em Ovar, perto da sua família e da sua namorada, que queria ver a sua família crescer.
“Portugal é mais do que Porto e Lisboa. Eu tive a segunda prova cega mais vista em todo o mundo morando em Estarreja. Não há impossíveis nas oportunidades, temos que fazer por isso”, afirma.
A sua família e a de Sara Vidal são do distrito da Aveiro e os seus músicos também são da mesma área. “É aqui que quero ver a minha filha crescer. Espero que haja mais pessoas a descentralizar porque só se cria mais barreiras nestas zonas. Devemos valorizar ao máximo o nosso país e não apenas alguns pólos”, sublinha o músico.
O Festival da Comida Continente e o novo passo na música
Entre 15 e 29 de julho, Fernando Daniel passará por Campo Maior, Vila Nova da Baronia, Aguiar da Beira, Paços de Ferreira e Gondomar, mas antes, a 9 de julho, este sábado, estará no Parque da Cidade no Porto. A entrada no Festival da Comida Continente (9-10 julho) é gratuita e tem emissão especial na SIC.
“Vai ser uma boa tarde. Foi inteligente da parte do Continente fazer um cartaz que apela a todas as idades e serve as famílias. Vão ser dias incríveis, tenho a certeza”, garante o cantor que revela que há convidados especiais para este sábado num cartaz que inclui Tony Carreira, Daniela Mercury e mais artistas.
Ainda em 2022, Fernando Daniel conta lançar um single e um novo álbum no início do próximo ano. “Vamos ter um novo espetáculo e uma nova digressão irreverente e que vai fazer correr muita tinta”, antecipa.