Elisabete Jacinto foi uma das convidadas do programa da SIC Mulher What’s Up! TV desta sexta-feira, 4 de março, e falou com Carolina Patrocínio sobre o estereótipo de género e a sua carreira.
A piloto de todo o terreno em moto e camião conta com várias participações no Dakar, mas só aos 24 anos é que tirou a carta de mota. “Fiz a minha prova de competição com 27 anos, não era idade de começar nenhuma carreira desportiva, era a idade de terminar”, começou por dizer e justificou: “Tive aquela educação clássica de que há coisas que as mulheres não fazem”.
“Primeiro o desafio era aguentar em cima da mota, depois era entrar em provas, em corridas com os rapazes. Depois veio a loucura do Dakar e a partir daí veio o camião que foi um desafio ainda maior”, contou.
“A minha carreira só prova que não há impossíveis”, concluiu e acrescentou: “Nós mulheres convencemo-nos a nós próprias de que não somos capazes, porque a sociedade nos impôs esses princípios: o princípio de fraqueza, de sermos inseguras, não termos coragem, termos medo de tudo. Nós podemos não ser assim, podemos ser diferentes. Somos capazes de muitas coisas e o nosso mundo precisa exatamente do grande contributo das mulheres e dos homens, lado a lado, a contruir um mundo melhor. As melhores equipas são as equipas mistas”.
Depois, Carolina Patrocínio não resistiu em perguntar: “Em algum momento da tua carreira sentiste que não foste levada a sério pelos homens?”.
“Não ia ser correta se dissesse que nunca tinha sido levada a sério”, começou por responder Elisabete Jacinto.
“No meio desportivo, quando aparece uma mulher, ninguém a considera como muito apta, as pessoas estão à espera que ela ande no final da classificação. A partir do momento em que eu comecei a apresentar resultados, as pessoas começaram a acreditar em mim e começaram a tratar-me com consideração. Isto no meio desportivo… Fora do meio desportivo, houve sempre aquele esterótipo de dizer ‘uma mulher não conduz camiões’, ‘uma mulher não anda de mota’, ‘o Dakar é uma prova difícil e se ela faz boa figura é porque afinal não é assim tão difícil’. Havia sempre uma justificação para desvalorizar e, no fundo, o que se calhar me deu mais força ao longo destes anos todos foi provar às pessoas de que eu podia ser boa piloto”, afirmou.
“Senti que as pessoas não acreditavam e é esse descrédito que muitas vezes nos deita abaixo e faz com que muitas mulheres que têm projetos giros de vida acabem por desistir deles. São tantos obstáculos que às vezes a pessoa desmoraliza. Durante muito tempo senti essa sensação de estar a remar contra a corrente. Trabalhava muito, esforçava-me imenso, organizava tudo muito bem, mas depois parece que havia sempre qualquer coisa que me empurrava para trás e eu não conseguia chegar onde queria”, finalizou.