Anton Eine, um escritor de ficção científica na Ucrânia, deveria ter lançado um livro, mas as tropas russas invadiram o seu país no dia 24 de fevereiro. Tem passado os últimos dias escondido no parque subterrâneo do prédio onde mora, em Kyiv, um prédio de 24 andares. O medo é constante: E se o prédio desabar? Uma das questões que o atormenta ao dormir no chão frio.
Cada vez que as sirenes alertam para os ataques aéreos na capital ucraniana, a família esconde-se num canto e para distrair o menino em momentos aterrorizadores como este, geralmente levam brinquedos e um tablet para o esconderijo. Em entrevista ao BBC, Anton explica que o filho está muito preocupado e faz muitas perguntas: “A minha esposa desceu as escadas e quando regressou, ele estava a perguntar: ‘Mãe eles dispararam contra ti?, e ela disse ‘não’, e ele disse ‘Vão disparar contra mim?'”, revelou.
Como explicar às crianças que o seu país está em guerra? “Alguns pais dizem às crianças que é um jogo. Estamos a tentar dizer a verdade ao nosso filho, mas de uma forma mais leve, adaptada à mente de uma criança de três anos. Nós dizemos-lhe que os soldados maus atacaram e os bons soldados, aqueles com a bandeira ucraniana, são os que nos protegem, e ele não precisa de se preocupar”, contou, referindo ainda que estão em contato com a equipa da escola do filho.
Os desenhos do menino não parecem apresentar nenhum sinal de traumas. No entanto, de acordo com o jornal, os amigos de Anton têm filhos mais velhos e os desenhos mostram claramente que foram afetados pela guerra. “Por causa desta situação ele tem que ver muito mais desenhos animados do que o normal e está a comer muitos mais doces do que o normal. Precisamos de o ocupar com algo. Ele não deve prestar muita atenção ao que está a acontecer. Os psicólogos aconselham-nos a ser mais gentis com as crianças nestes tempos e a amá-las mais do que o habitual”, afirmou.
Porém, quando se trata da segurança, têm que ser mais rigorosos. O menino aprendeu rapidamente que quando ouve uma sirene, a família tem que correr e esconder. “Assim que ouvimos sirenes ou recebemos uma notificação, gritamos ‘Para o abrigo!’ e o que quer que ele esteja a fazer, ele larga isso e foge. Até nos surpreende como as crianças entendem a necessidade de se comportar de forma adequada”, disse.
Anton contou ainda que alguns pais costuraram crachás com o grupo sanguíneo dos filhos nas suas roupas e estão a ensinar-lhes a morada e o nome dos pais, caso sejam separados. Quando ao escritor e a família, a BBC disse que poderão ter de evacuar em breve, mas sem certezas para onde. “Ninguém sabe qual é o lugar mais seguro”, afirmou Anton.