António Guterres, que tem dirigido muitas das suas últimas intervenções para a necessidade de combater as alterações climáticas, imaginou a sua futura trineta e escreveu-lhe uma carta, para ser aberta em 2100:
“Vais abrir esta carta com um espírito de felicidade e gratidão – ou com desilusão e raiva da minha geração?”
O líder das Nações Unidas antecipa que, se estivessem juntos, a trineta lhe perguntaria se viu “o desastre a chegar”. A resposta é “sim”. Guterres refere-se às “convulsões climáticas que ameaçam o nosso planeta”.
Prossegue:
“Estamos a dar cabo do planeta graças à ganância abismal, a ações tímidas e à dependência de combustíveis fósseis, que a cada ano conduzem as temperaturas a novos máximos insuportáveis.”
Na correspondência publicada na Time, o português nota também que “demasiados” líderes políticos falharam nas respostas aos apelos da comunidade científica e da sociedade civil, em especial dos jovens.
À semelhança do que disse no último Conselho Europeu, Guterres voltou a referir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus. Para tal, seria preciso haver “vontade política” para fazer um “pacto de paz com a natureza”.
“O que é que fizeste para salvar o planeta e o nosso futuro quando tiveste essa oportunidade?”
Em resposta a esta fictícia interpelação da trineta, que simultaneamente o “assombra e motiva”, Guterres termina a missiva com o compromisso de que não vai desistir de defender “a ação climática, a justiça climática e um mundo melhor, mais pacífico e mais sustentável”, que “todas as gerações merecem”.