Muito tem sido falado e discutido sobre a Euribor e, por isso, mas não só, é importante perceber a dimensão e o impacto que esta assim no dia a dia dos portugueses e nas suas carteiras. A verdade é que nos últimos meses assistimos a aumentos da Euribor que nunca tinham acontecido na história da banca.
O que é?
Ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, o dinheiro que a banca empresta para os portugueses comprarem casa não pertence propriamente aos bancos nacionais e, por isso, existe também um outro empréstimo de importante registo.
Assim, o dinheiro que o banco empresta resulta de um empréstimo solicitado por esse mesmo banco aos bancos europeus. Por sua vez, e da mesma forma que pagamos um juro ao banco que nos empresta dinheiro, também o banco nacional paga uma taxa de juro ao banco europeu. A esse juro – pago pelo banco nacional – damos o nome de Euribor.
As razões da subida da Euribor
Muito por causa da inflação – acentuada pela invasão da Ucrânia pela Rússia e consequente guerra- – o Banco Central Europeu (BCE) tomou algumas medidas de reação e de precaução. Uma das principais medidas está diretamente relacionada com a conduta mais cautelosa que o BCE tem assumido nos últimos meses e foca-se, sobretudo, no aumento gradual da Euribor.
Nesse sentido, é possível inferir que a atual conjetura global tem uma influência real e direta naquele que é o principal produto financeiro comercializado pela banca a nível internacional – o crédito habitação.
Os números que não mentem
Se olharmos para a Euribor a 6 meses – aquela que os bancos mais disponibilizam atualmente– percebemos que houve um aumento de quase 3% desde o início do ano. Em janeiro, esta taxa estava a -0,539% e hoje encontra-se a 2,337%.
Por sua vez, e registando uma evolução igualmente preocupante, também a Euribor a 12 meses acabou por assumir uma tendência tão relevante quanto preocupante. O ‘salto’ foi superior a três pontos percentuais, sendo que em janeiro esta taxa assumia um valor correspondente a -0,499% e hoje encontra-se a 2,867%.
Apesar de a Euribor já ter assumido valores mais elevados – na crise de 2008 chegou a estar na ordem dos 5% – estes aumentos foram mesmo os maiores desde que há registo na história da banca. É verdade que nos últimos anos esta taxa esteve em baixo e que há quem considere que o atual fenómeno seja o mercado a regular-se, todavia, os aumentos têm sido consideráveis e dignos de reflexão.
Para entendermos o real impacto que a Euribor assume nas finanças dos portugueses, podemos analisar três casos em concreto que o ComparaJá ilustra na tabela apresentada.
O primeiro caso apresentado corresponde a um processo de crédito em que, aplicando uma taxa variável, o cliente estará atualmente a pagar quase 100€ a mais do que aquilo que pagava em janeiro.
Montante Solicitado | Prazo | Spread | Euribor (janeiro vs outubro) | TAEG | Mensalidade (janeiro) | Mensalidade (novo aumento) |
€57,600.00 | 34 anos 408 meses | 1.20% | -0.527% 2.853% | 1.60% | €170.62 | €260.32 |
No segundo caso, sendo o montante inicial significativamente mais elevado, o aumento (dado que este aumentos são calculados percentualmente) é monetariamente superior. Nesta situação a prestação mensal conta com um aumento de quase 200€ – sendo este exemplo o que mais se assemelha aos casos da realidade portuguesa.
Montante Solicitado | Prazo | Spread | Euribor (janeiro vs outubro) | TAEG | Mensalidade (janeiro) | Mensalidade (novo aumento) |
€907,561.00 | 20 anos 240 meses | 0.85% | -0.527% 2.853% | 2.10% | €4,539.29 | €5,358.65 |
Por sua vez, o terceiro caso é um exemplo exceção mas que ajuda também a perceber os limites (ou a falta deles), dado que em concreto a mensalidade aumentou quase mil euros.
Montante Solicitado | Prazo | Spread | Euribor (janeiro vs outubro) | TAEG | Mensalidade (janeiro) | Mensalidade (novo aumento) |
€907,561.00 | 20 anos 240 meses | 0.85% | -0.527% 2.853% | 2.10% | €4,539.29 | €5,358.65 |
Eis as 6 dicas para combater a Euribor
Apesar de estes números serem aplicados por instituições superiores e europeias, existem algumas estratégias que poderemos ter em conta para que estes números não impactem tanto as nossas carteiras. É verdade que será sempre impossível contrariar os números em si, mas podemos e devemos ter alguns cuidados importantes:
1. Renegociar o Spread
Ao contrário do que se pode pensar, o melhor elemento a ter em conta quando comparamos propostas de crédito é mesmo a TAEG (Taxa anual de encargos efetiva global) e não o Spread. Ainda assim, negociar o Spread com o próprio banco pode ser uma solução viável caso veja a sua prestação a aumentar consideravelmente.
Ao reduzir o Spread estará, naturalmente, a reduzir a mensalidade do crédito contratado.
2. Taxa Fixa
Este é, muito provavelmente, o aspecto mais importante e mais desconhecido. A maior parte dos processos de crédito em Portugal têm taxa variável e, por isso, ficam sempre sujeitos às constantes oscilações do mercado. Ao optar por uma taxa fixa, o valor a pagar inicialmente poderá ser mais elevado mas estará sempre salvaguardado deste tipo de situações.
Se por acaso já tiver um crédito com taxa variável pode também optar por uma eventual mudança no contrato. Não é por desprotegido ontem que terá de o estar amanhã.
3. Seguro de Vida
Associada à contratação de um crédito habitação, está invariavelmente a contratação de um seguro de vida (nota: este seguro de vida não tem de ser contratado no banco que irá tratar do seu crédito habitação. E uma hipótese, mas não é uma imposição.).
Aliás, em muitos dos casos contratar um seguro de vida numa outra empresa poderá mesmo fazer com que a sua prestação reduza, dado que muitas das vezes os bancos acabam por ‘compensar’ um Spread mais baixo através dessas nuances.
4. Transferência de Crédito Habitação
Apesar de os créditos possuírem, por norma, uma maturidade que ronda os 30/40 anos, não é verdade que as condições terão de ser as mesmas ao longo desse tempo. Aliás, nem o banco tem de ser o mesmo.
Se por acaso não estiver satisfeito com as condições atuais do seu crédito (condições essas que poderiam ser positivas no passado mas negativas no presente) pode sempre ponderar em transferir o seu crédito para outro banco de forma a obter condições mais vantajosas do que aquelas que tem agora.
Este é um processo que normalmente acaba por ser gratuito dado que os bancos costumam assumir os encargos associados a este processo.
5. Amortização da Dívida
Esta é uma solução que pode ser algo complexa mas que não deixa de ser válida. Se tiver algum (ou bastante) conforto financeiro pode fazer sentido amortizar a dívida do seu crédito de forma a liquidar uma fração do crédito (sem, contudo, recorrer ao seu fundo de emergência).
Assim, conseguirá reduzir o capital em dívida e consequentemente irá também reduzir a sua prestação mensal.
6. Consolidar os créditos
Se tiver mais do que um crédito contratado (algo recorrente em Portugal: habitação + automóvel por exemplo), pode fazer sentido consolidar os créditos para reduzir o encargo mensal das suas finanças.
É certo que ficará a pagar por mais tempo, mas certo também que esta solução poderá aliviar a sua carteira no que diz respeito ao dinheiro a desembolsar todos os meses.