Não são todos os dias que acontecem experiências deste género. Já imaginou qual seria a sensação de ser o único passageiro a bordo de um avião? “Foi do caraças!”, afirmou Tiago Albuquerque, que viajou no dia 11 de janeiro do aeroporto de Krabi, na Tailândia, em direção a Singapura, uma cidade-Estado situada no sudeste asiático. Numa entrevista exclusiva, o jovem de 28 anos contou-nos ao pormenor o que aconteceu.
O backpacker, que partilha várias fotografias das suas aventuras na sua conta de Instagram, partiu de Portugal para fazer uma viagem de dois meses que teve como primeiro destino o Irão, onde ficou 15 dias, seguindo para a Tailândia, passando o Natal e o Ano Novo no famoso país conhecido pelas suas praias paradísiacas. No último dia, Tiago decidiu passar a noite no aeroporto e foi a partir daí que as peripécias começaram. “Como o meu voo era de manhã cedo pensei ‘Vou para o aeroporto, durmo lá’, como já fiz tantas vezes. Poupo na estadia e nos transportes”, conta.
Em Pai, na província de Mae Hong Son No comboio que faz o trajeto de Bangkok a Ayutthaya
“Fui ao balcão de informações e ela [a assistente] diz-me ‘o aeroporto fecha às 22h’ e eu depois perguntei ‘não há hipóteses de eu ficar aqui dentro?’. Ela ainda tentou ligar para o direto do aeroporto, mas ele disse que não. E eu disse ‘tudo bem, fico à porta do aeroporto'”. E assim foi. Chegada a hora do fecho, Tiago dirigiu-se para o exterior, mas graças a “uma senhora” conseguiu resolver a situação. “Ela falou com o segurança, que depois falou com o superior, e depois veio o chefe da segurança e disse-me que podia entrar. Portanto, acabei a dormir dentro do aeroporto com o aeroporto fechado“, recorda.
O estranho caso dos voos internacionais
Mas o insólito não acaba por aqui. Mais uma vez no balcão de informações, o viajante ficou surpreendido: “Eu apanhei o avião em Krabi, que é um aeroporto muito pequeno que só faz voos domésticos. Eu até estranhei e perguntei [à assistente] ‘onde é que é a zona dos voos internacionais?’ e ela responde-me ‘aqui não há zona de voos internacionais, aqui é só partidas de voos domésticos'”. Confuso, voltou a referir que tinha um voo para Singapura a partir do aeroporto, ao qual a assistente responde que ‘sim, realmente há esse voo’“.
“Como é que eu acho que isto aconteceu? Como eu comprei um voo combinado pelo site da Scoot [uma companhia aérea de baixo custo], o meu voo era de Krabi para Singapura para depois apanhar o principal Singapura-Berlim. O que deve ter acontecido é que aquele trajeto que eles fizeram foi simplesmente para me vir buscar e levar-me para Singapura. À partida parece-me que não há um trajeto diferente porque aquilo nem é um aeroporto de voos internacionais”, explica.
Feito o controlo de segurança, Tiago dirigiu-se para porta de embarque e viu o avião aterrar. “Eu estava lá sentado desde o início e consigo garantir que não saiu ninguém daquele voo“, destaca. Entretanto no autocarro shuttle, o viajante começou a estranhar. “Eu pensei ‘bem, o avião acabou de aterrar, não saiu ninguém, foi apenas uma paragem para me apanharem e seguir o voo principal para Singapura. As pessoas ainda estão lá dentro'”, relembra. “Subo para o avião, está a tripulação à porta, olhei, e não estava mais ninguém”, acrescenta.
“Sinceramente não pensei nada porque de repente o responsável pela tripulação pergunta o meu nome e disse-me ‘és o único passageiro e eu vou dirigir-me diretamente a ti pelo intercomunicador’. Foi do género: ‘Mr. Tiago, vamos descolar’. Eu parti-me a rir e fiquei mesmo parvo com a situação”, disse.
Quanto à tripulação de cabine, Tiago explica que “era malta jovem”. “Estavam todos muito à vontade, iam sentados nos bancos normais comigo. Fomos à conversa. Foi mesmo muito engraçado. Pediram-me só que na descolagem ficasse no meu lugar, a partir daí podia ir para onde eu quisesse. Eu entretanto sentei-me em vários sítios”, conta, referindo que escolheu os lugares da frente por serem mais confortáveis.
“Fui sozinho no avião, questionei sobre isso, se é normal, eles [a tripulação] disseram ‘não há pessoas, não há malta a viajar. Isto às vezes vai cheio, outras vezes vai vazio. Ias para Singapura apanhar o outro voo, nós temos que fazer o voo à mesma, temos que fazer a rota’”, explica.
E a história caricata ainda não acaba por aqui. “Quando cheguei a Singapura e dirijo-me ao controlo de temperatura está lá uma senhora. Ela fica muito séria e pergunta ‘És só tu?’. E eu comecei a rir-me e ela disse na brincadeira: ‘Deves ser mesmo vip’”, recorda, entre risos.
Voos fantasmas
No início da pandemia, os chamados “voos fantasmas” despertaram uma grande polémica devido ao prejuízo e impacto ambiental que causam para manter slots (faixas horárias). De acordo com o ‘El País‘, há companhias aéreas europeias a operar milhares de aviões, sem necessidade, e a culpada é a Ómicron. Terá sido este o caso?
“Todos acharam muita graça a isto, o que me faz acreditar que não é uma coisa recorrente, mas isto é muito mau sinal. Quer dizer que não há malta a viajar, que o vírus está mesmo a parar o mundo. Um voo que sai vazio de Singapura para vir buscar uma pessoa, só uma pessoa à Tailândia, e voltar com uma pessoa para Singapura, é uma despesa gigante, não pode ter havido lucro naquele voo. E mais que tudo: é muito mau para o ambiente. É engraçado, é inédito, mas não é nada bom”, sublinha Tiago Albuquerque.
A SIC Mulher entrou em contacto com a Scoots para obter mais informações sobre este caso. No entanto, a resposta não foi esclarecedora. “A procura por voos e as cargas de voo variam com base numa infinidade e mistura de fatores, como objetivo da viagem, tarifas, necessidades de viagem, evolução dos regulamentos Covid-19 e viagens sazonais, por exemplo. Antes da pandemia e durante a pandemia, a Scoot procurou continuamente fornecer aos clientes tarifas de classe mundial e económicas, ao mesmo tempo que defende a saúde e a segurança da nossa tripulação e daqueles que servimos Continuaremos ágeis e flexíveis no ajuste da nossa capacidade para atender à crescente procura por viagens aéreas de forma calibrada”, lê-se.