Susana Fonseca sofre de endometriose, uma doença difícil de diagnosticar e que atinge muitas mulheres. Foram cerca de 14 anos sem saber o que tinha, com menstruações irregulares, infeções urinárias, cólicas e dores tão fortes que muitas vezes a atiraram para uma cama.
Esta sexta-feira, 25 de fevereiro, Susana partilhou o seu caso no programa Casa Feliz e alertou para a desvalorização dos sintomas por parte de alguns médicos.
“Eu comecei a ter sintomas pouco tempo depois da primeira menstruação. Corri vários ginecologistas e nunca houve uma resposta para os meus sintomas. Diziam sempre que era normal, que eu era um bocadinho piegas, que todas as mulheres tinham que aguentar as dores da menstruação”, começou por contar. “Depois eu própria acabei por me ir convencendo que, se calhar, eu é que era um bocadinho piegas e que aquilo seria mesmo normal, que todas as mulheres tinham de passar por aquilo”, acrescentou.
Porém, as dores eram incapacitantes e os sintomas iam piorando cada vez mais. “Inicialmente eu tinha muitas cólicas menstruais fortes ao ponto de estar o mais confortável possível em posição fetal, agarradinha à barriga, com sacos de água quente. Fazia medicação para essas cólicas. Depois, com o passar dos anos, passei a ter sintomas intestinais, muitas cólicas intestinais, acompanhadas de diarreias ou obstipação gravíssima […] Cada vez que estava menstruada tinha sintomas de infeção urinária, mas ao fazer análises não havia presença de bactéria. Portanto, eu não tinha uma infeção urinária, mas tinha os sintomas todos”, confidenciou.
“Foi piorando bastante e depois, talvez por volta dos meus 18, 19 anos, eu já passava ali dois dias em que não fazia nada da vida porque não conseguia. Não me conseguia levantar […] Tinha febre, vómitos, tanta dor. Foi um período complicado”, explicou.
Até que chegou o dia em que o atual marido fez uma pesquisa na internet, cujo sintomas surgiam associados à endometriose. “Depois, já com essa possibilidade também recorri a dois ou três ginecologistas que me disseram que se fosse [endometriose] não havia nada a fazer, que o único problema era engravidar. Ou seja, nunca quiseram confirmar se era ou não endometriose e nunca me deram uma alternativa para aquilo que eu estava a sentir e que era totalmente incapacitante a partir de determinada altura da minha vida”, contou.
O diagnóstico acabaria por chegar quando Susana recorreu a um médico especializado na doença. “Apenas na consulta de observação, ele detetou logo que eu tinha uma endometriose muito grave, profunda e que precisava de uma cirurgia urgente devido à extensão da doença”, referiu.
Ironicamente, um dos dias mais felizes da sua vida foi quando recebeu o diagnóstico de endometriose. “É irónico, mas ao mesmo tempo eu sabia o que tinha e, a partir daí, eu podia traçar um caminho e recuperar a minha qualidade de vida”, confessou.
Após a cirurgia, Susana recuperou cerca de “ 80% da sua qualidade de vida” e, dois anos depois, concretizou o sonho de ser mãe. Deu as boas-vindas à pequena Bianca, atualmente com sete anos.
No entanto, após o nascimento de Bianca, “as coisas não melhoraram” e aos 32 anos teve de se submeter a uma histerectomia total. “Entrei em menopausa cirúrgica aos 32 anos”, desabafou.
Atualmente e apesar de todas as adversidades, Susana Fonseca procura ajudar outras mulheres que lutam contra a doença e criou a associação Mulherendo, uma entidade de apoio às mulheres com endometriose.