Nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, uma mãe, que estava a fugir do avanço da União Soviética, teve um sonho aterrorizante que lhe salvou a vida. Em 1945, Anita Tollkuhn e a filha, Inge, estava entre as milhares de pessoas que tentavam desesperadamente escapar da província alemã da Prússia Oriental, no extremo leste da Alemanha, quando tomou uma decisão, aparentemente suicida, numa questão de segundos.
Quando mãe e filha chegaram ao navio nazi Wilhem Gustloff pensaram que estariam a salvo. No entanto, enquanto esperavam para zarpar, Anita sonhou que estava a afogar-se. “A minha avó disse que sentiu a água a encher os seus pulmões e viu os móveis a flutuar na água. Ela agarrou no braço da minha mãe e puxou-a para fora do navio contra a enxurrada de pessoas que ainda estavam a embarcar. As pessoas ao seu redor não conseguiam acreditar, achavam que ela estava louca. A minha mãe não entendia o que estava a acontecer”, contou o neto de Anita, Dennis, numa entrevista exclusiva ao Mirror.
Horas depois de deixar o porto, no dia 30 de janeiro de 1945, a tragédia aconteceu: o navio foi atingido por três torpedos disparados de um submarino soviético. Um atingiu a piscina drenada do navio – precisamente onde Anita e Inge estavam a dormir. Ao contrário do que é costume pensar, o Titanic não foi o maior naufrágio da história. O naufrágio do navio Wilhelm Gustloff foi seis vez mais mortal: mais de 9 mil pessoas, incluindo 5 mil crianças, morreram quando o navio afundou nas águas geladas do Mar Báltico.
Anita, que é conhecida pela família como Mutti, não tinha ideia de que o seu pesadelo se tinha tornado realidade. Poucos meses depois de chagarem a um campo de refugiados em Hanover, Inge, que na altura tinha 17 anos, conheceu o soldado britânico Dennis Hopper. Os dois casaram, mudaram-se para Inglaterra e tiveram dois filhos, Dennis Jr. e Mariane, cinco netos e seis bisnetos, mas durante décadas a incrível história de Anita permaneceu em segredo. Agora, 76 anos depois, a sua nora, Beverly, contou-a num livro, o Mutti’s Dream.
Beverly revela que Inge, que morreu em 2015, não queria que a família esquecesse: “Ela falou sobre isso repetidamente ao longo da sua vida e, nos seus últimos anos, falou sobre isso cada vez mais e ficava bastante emocionada. Acho que ela não queria deixar isso morrer com ela”, disse.
“Se a minha avó não tivesse esse sonho eu não estaria aqui. Isso é algo que eu acho bastante emocionante. Nunca ouvi a minha avó falar sobre isso, mas a minha mãe descrevia entrar a bordo do navio e a minha avó a ter o sonho, arrastando-a para fora do navio. As histórias que ela contava fascinavam-me e horrorizavam-me”, recordou Dennis Jr.
Dennis acredita que a tragédia de MV Wilhem Gustloff deveria ter um lugar tão proeminente na história quanto o Titanic. “Quando os soviéticos perceberam que 5 mil crianças morreram, eles fugiram silenciosamente. Não houve muita simpatia pelas vítimas alemãs. Só nos últimos anos é que as pessoas começaram a separar isso de um ato de guerra para uma verdadeira tragédia”, afirmou.