Ana Parra não sabia que tinha um irmão, Daniel Parra. Aliás, meio-irmão. Só o conheceu aos 20 anos. Entrou em contacto com ele, que na altura tinha 17 anos, e os dois apaixonaram-se. Hoje, têm dois filhos, de cinco e três anos, e estão a lutar para haja uma mudança de lei no seu país, Espanha, para trocarem alianças formalmente.
O pai de Ana abandonou-a quando era criança, para formar outra família, mas ela sempre soube que tinha um irmão que não conhecia. O que jamais imaginaria é que esse irmão acabaria por se tornar seu namorado e pai dos seus filhos.
Em entrevista ao El Espanhol, Ana disse que não sabia o nome nem a idade do irmão. A única coisa que suspeitava era que vivia em Granollers, Barcelona, a sua cidade natal, e com uma pequena investigação no Facebook encontrou-o e adicionou-o. Já Daniel, que por parte de pai e mãe tem três irmãos, contou que apenas lhe disseram uma vez que talvez tivesse uma irmã, mas o seu pai nunca lhe disse, “era uma coisa que ele queria esconder”.
O início do amor proibido
Assim que os seus caminhos se cruzaram, começaram a falar através das redes sociais. Nunca se tinham visto, mas naquela altura moravam os dois fora de Granollers, numa pequena cidade chamada Santa Eulália de Ronsana. Dois dias depois encontraram-se pessoalmente e esses encontros tornaram-se cada vez mais frequentes.
“Tentávamos manter uma relação de irmãos, mas era difícil para nós“, contou Daniel. Entretanto, Ana foi viver sozinha e, posteriormente, os dois começaram a viver juntos. Cada vez mais próximos, Ana e Daniel acabaram por ceder aos sentimentos que nutriam um pelo outro.
“Tínhamos uma barreira mental, imposta pela sociedade, mas a realidade é que somos dois jovens que um dia conheceram-se e apaixonaram-se. A sociedade é regida por normas morais e a nossa moral, no fundo, impediu-nos de dar esse passo. E é tonto porque, se pensarmos bem, a nossa relação é como qualquer outra, exceto por um livro de família que diz que somos irmãos de sangue”, explicou Daniel.
Os dois irmãos anunciaram que estavam juntos e fizeram-no de forma inusitada: foram a um programa de televisão. “Vamos viver escondidos por algo pelo qual não fazemos mal a ninguém?”, questionou Ana, explicando que esta foi a forma que encontraram para evitar que as pessoas falassem nas suas costas. As críticas vieram através das redes sociais: “Há pessoas que nos escreveram a dizer que vamos arder no inferno”, contou.
Há também quem comente, de forma ofensiva, acerca da saúde dos dois filhos: “Coloco fotografias dos meus filhos nas minhas redes sociais porque ainda nos dizem que de certeza que têm alguma síndrome, quando estão perfeitamente saudáveis e bonitos”, sublinhou.
No entanto, Daniel e Ana querem deixar claro que, ao contar a sua história, não estão reivindicar relacionamentos amorosos entre irmãos. “Nunca dissemos que a relação amorosa entre dois irmãos é algo natural, simplesmente contámos a nossa história pessoal, não reivindicámos nada. É algo incomum e pronto, mas muitos pensam que somos loucos por defender este tipo de relacionamento e que violámos a moral, e não é assim, nós só contamos o que nos aconteceu”, esclareceu Daniel.
O sonho de casar
No registro civil, os dois constam como pais das crianças, o que seria impossível antes de 2012, quando dois irmãos galegos, Daniel e Rosa Moya Peña, conseguiram, após 35 anos “de relação proibida”, vencer a batalha e serem reconhecidos como pais dos filhos de 26 e 19 anos. Por decisão judicial, Daniel deixou de ser tio dos seus filhos e Rosa deixou de ser mãe solteira. “Eles abriram um precedente”, disse Ana.
O incesto não é crime em Espanha desde 1978, mas o país proíbe o casamento entre parentes diretos. Assim, de acordo com a legislação vigente, Ana e Daniel não podem casar, mesmo estando há nove anos juntos. Em Espanha, Ana teria que registrar-se como filha de outro homem, que seria o seu pai adotivo no papel, para poder casar. No entanto, os dois afirmam que essa ação é muito dispendiosa para adultos.
“A sociedade deve seguir em frente e não ancorar-se em tradicionalismos. Os homossexuais também não tinham permissão para casar e agora podem. Nós amamo-nos e é isso que deve prevalecer. Não fazemos mal a ninguém. Por isso queremos que as pessoas conheçam a nossa verdadeira história”, completou Ana.