“Ele não queria que eu ficasse sozinha, queria ser especial como eu”. A frase é dita por Everly Backe, ou Evie, como é conhecida no seu seio familiar. Aos quatro anos de idade, já ultrapassou vários obstáculos, depois de um precoce diagnóstico de saúde: cardiopatia congénita. Trata-se de uma malformação cardíaca que ocorre durante o desenvolvimento do coração do feto no útero materno. A primeira de muitas cirurgias foi feita de externo aberto, logo após o nascimento.
Agora que está numa fase de maior curiosidade, e em que começa a estar mais consciente sobre o seu problema, a criança foi surpreendida pelos pais, Matt e Lauren Backe numa atitude em que ambos pretendiam continuar a demonstrar o amor e apoio à filha. E de que forma? Simbolizando na pele essa conexão à história de Evie. Em entrevista ao programa de televisão Good Morning America, emitido pelo canal ABC, os pais de Everly contaram como tomaram a decisão de fazerem as tatuagens, eternizando os vários momentos em que a criança já teve de ser sujeita às operações ao coração.
A iniciativa terá partido de Matt que decidiu fazer uma tatuagem no peito exatamente igual à cicatriz da filha. Como vai ter de passar por mais cirurgias no futuro, os médicos do Advocate Children’s Hospital no Illinois, E.U.A., decidiram pela abertura do externo para a operação, criando uma cicatriz que os médicos “abrem e fecham” a cada nova intervenção. Em casa, a família passou a denominar essa cicatriz como uma espécie de zíper, ou fecho-éclair, e foi dessa ideia que Matt terá chegado à conclusão de que se deveria tornar num “companheiro de zíper” da sua filha. Cada vez mais consciente desta marca para a vida, o pai da menina quis tranquilizar a filha e ‘normalizar’ o problema.
“Fui ouvindo a Evie a mencionar o seu ‘zíper’, a começar a fazer mais perguntas do que o normal sobre a cicatriz. Aí, o meu pensamento divergiu para a necessidade de criar uma espécie de réplica disso, tornarmo-nos os ‘amigos do zíper’, sobretudo para ela não estar, nem se sentir sozinha em relação a isso”, transcreve a ABC no seu site. Agora, a menina tem o hábito de olhar para o peito do pai e de reconhecer as semelhanças. “Ele queria ser especial como eu”, terá assumido Evie.
Depois de Matt, seguiu-se Lauren, que agora tem tatuado no antebraço as linhas de um eletrocardiograma, que mostram a frequência cardíaca da filha. Jack, irmão de Evie, o primeiro filho do casal, já terá assumido o compromisso de também fazer uma tatuagem em homenagem à irmã, quando completar 18 anos.
Antes da entrevista no canal televisivo, o casal terá partilhado fotografias das suas tatuagens e da história por detrás da decisão nas redes sociais, levando ao apoio de muitos internautas: “Tivemos muitas pessoas, também com a mesma doença [da Everly] que nos estenderam a mão. Houve até quem dissesse – ‘Eu tinha uma cicatriz em criança, e costumava cruzar os braços quando estava na piscina, porque sempre tive vergonha. Revejo-me na vossa história’. Ficámos sinceramente impressionados com todas as pessoas que entraram em contacto connosco, e que referiram estar a apoiar-nos”, assumiu Lauren, citada pelo Metro UK.
Segundo o Centro de Referência de Cardiopatias Congénitas do CHULC (Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central), em geral, ocorrem em cada 8 a 10 de cada 1000 crianças que nascem vivas (nados-vivos), em Portugal e no resto do mundo, ou seja 0,8 a 1% dos recém-nascidos podem ter uma cardiopatia congénita. As cardiopatias congénitas críticas são mais raras e apenas atingem 0,3 a 0,4% dos recém-nascidos.