Deixar que as crianças sejam “independentes” a partir dos dois anos pode parecer impensável, mas o novo reality show japonês da Netflix, ‘Old Enough’, mostra isso mesmo: os meninos fazem compras no supermercado e apanham transportes públicos sozinhos, a pedido dos pais.
O programa tem sido um sucesso na televisão japonesa há mais de 30 anos. A primeira temporada, que foi filmada em 2013, já está disponível na Netflix e tem deixado alguns pais com o coração nas mãos.
Cada episódio foca-se numa criança. Por exemplo, no primeiro episódio, Hiroki, um menino de 2 anos, vai até ao supermercado para comprar um pacote de Boten, caril e um bouquet de flores, a pedido da mãe. No bolso, tem uma nota de mil ienes (cerca de 7 euros). O menino percorreu um quilómetro à beira da estrada, com vários carros a passar ao lado na estrada, enquanto as câmeras o seguiam.
Em entrevista ao Insider, dois especialistas tiveram opiniões diferentes sobre o programa. Lenore Skenazy, presidente da Let Grow, uma organização sem fins lucrativos que defende a independência infantil, disse que se sentiu encorajada. “É bom ligar a televisão e ver um programa onde as crianças fazem recados e são felizes e bem-sucedidas. Não é mais uma temporada de ‘Law and Order’ onde eles são sequestrados”, afirmou.
Leonore descreveu a cultura parental no Japão como mais relaxada do que, por exemplo, os Estados Unidos. “Na América, só vemos crianças em perigo. Se alguém visse uma criança de 5 anos, 4 anos – e certamente mais ainda uma criança de 2 anos – a andar sozinha no parque, teria um ataque cardíaco e chamaria a polícia”, disse a especialista, referindo ainda que acredita ser saudável a confiança entre adultos e crianças.
Por outro lado, Tanith Carey, autora de livros sobre paternidade, tem algumas preocupações acerca do programa. “Eu apoio amplamente a ideia de que as crianças devem ser ensinadas a fazer mais por si mesmas. Quando as crianças se sentem confiantes, isso aumenta a auto-estima. Mas – e este é um grande ‘mas’ – as tarefas que os adultos lhes pedem para realizar têm que ser apropriadas para o seu desenvolvimento”, explicou.
“O [programa] erra ao fazer crianças pequenas figuras divertidas e rir delas, pedindo-lhes para realizar tarefas para as quais não estão prontas”, acrescentou.