As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa proferidas na tarde desta terça-feira, 11 outubro, sobre os abusos sexuais na Igreja geraram uma enorme onda de críticas nas redes sociais e também por parte de vários partidos políticos. Em causa estão as palavras do Presidente da República sobre o número de casos (424) que chegaram à Comissão Independente, que está a investigar os abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica portuguesa.
“Há queixas que vêm de pessoas de 90/80 anos que denunciam o que sofreram há 60, 70 ou 80 anos. O que significa que estamos perante um universo de milhões de jovens ou muitas centenas de milhares de jovens que se relacionam com a Igreja Católica, pelo que haver 400 casos não me parece particularmente elevado”, disse Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.
Entretanto, horas mais tarde, o Presidente da República esclareceu, em declarações à SIC Notícias, o quis dizer sobre os crimes de abuso sexual na Igreja.
“De facto foi mal interpretado aquilo que eu tinha dito. Não percebi bem porquê, mas foi. As coisas são como são, vivemos em democracia, as pessoas têm todo o direito de entender que não foi claro, que não foi bem assim. Agora há uma coisa que é óbvia, nós estamos perante uma realidade que é grave, que é um crime”, começou por referir.
“O que é facto é que é grave e é tão grave haver suspeitos deste crime como haver a prática do crime. Portanto, não pode haver nenhuma dúvida que basta haver um caso, dois casos, três casos para ser muito grave e as vítimas terem todo o direito e até a coragem quando vêm revelar aquilo que se passou”, salientou em seguida.
“Como disse hoje, mas não passou, um cardeal, um bispo, um padre, o quer que seja de qualquer religião, de qualquer igreja, não está acima da Constituição, nem da Lei e, portanto, deve ser responsabilizado se for caso disso. Eu disse, mas não passou. E o que passou foi entendido como uma justificação do que é injustificável. Ora bem, o que eu disse na parte quantitativa, não é diferente do que eu disse há meses. Há uns meses perguntaram-me: “Parece que são só 200, 300 ou 400 casos’ e eu disse: ‘Acho curto’. Acho curto porque começa em 1950, vem até uns 25 anos da ditadura, vem até à democracia, num país onde a Igreja Católica, então em ditadura ainda mais, tem um peso enorme em instituições relacionadas com crianças e com jovens. Quatrocentos casos? A minha convicção é que são muitos mais”, explicou.
“Eu, naquilo que dependia de mim, que era em relação ao bispo que preside a conferência de todos os bispos, não tive um segundo de hesitação em fazer a participação. Eu acho que isto mostra que não deve haver um segundo de hesitação em apurar a verdade, doa a quem doer”, frisou.
Marcelo Rebelo de Sousa explicou ainda que entende as críticas. “Eu estou a explicar o que para mim me parecia evidente, que é o meu pensamento sempre e a minha conduta. Eu respeito a opinião dos partidos como respeito a opinião das vítimas, das pessoas, das figuras da Igreja que ficaram muito melindradas ou não com a decisão que eu tomei em relação a um bispo. Estamos em democracia. Em democracia, é assim mesmo. Em democracia aceita-se a crítica e ninguém pode ficar ferido, amuado ou magoado com isso e percebo que as pessoas tenham opiniões diferentes, juízos diferentes, achando que eu não disse exatamente o que queria dizer e que tenho dito sempre”, sublinhou.
Por fim, o Presidente da República considerou que não irá sair fragilizado depois das críticas que lhe foram dirigidas. “A democracia é feita disso […] O presidente é eleito para aceitar isso, para aceitar com humildade. Eu não sou ditador, não se vive em ditadura. É assim, criticam ou acham que eu devia ter dito de uma forma melhor, de uma maneira diferente, eu aceito essas críticas“, afirmou.