Os pais de Ralph Yarl pediram-lhe para ir buscar os dois irmãos mais novos à casa de uns amigos, mas o jovem de 16 anos enganou-se na morada e tocou à campainha errada: foi baleado duas vezes, uma delas na cabeça. O incidente aconteceu no dia 13 de abril, na cidade de Kansas City, no Missouri (EUA).
De acordo com o que a tia de Ralph, Faith Spoomore, publicou no GoFundMe, o seu sobrinho – que não tinha o telemóvel consigo, estacionou à entrada da casa, que ficava a um quarteirão da casa onde os irmãos estavam, e tocou à campainha. Foi então que Andrew Lester disparou contra o jovem, atingindo-o na cabeça. Ralph caiu para o chão e o homem de 84 anos disparou novamente, atingindo o braço.
O jovem conseguiu levantar-se e correr para a casa do vizinho à procura de ajuda. Foi a três casas diferentes e forçado a deitar-se no chão com as mãos na cabeça até que uma pessoa o ajudou. Estava imóvel e coberto de sangue quando James Lynch o encontrou inconsciente.
“Eu pensei que ele estava morto. Ninguém merece ficar ali assim. Ele ainda nem começou a viver a sua vida. Não merecia levar um tiro”, disse James, citado pela NBC News. O homem de 42 anos tinha acabado de tomar banho e preparava-se para dormir quando ouviu gritos do lado de fora. Quando foi à janela da cozinha, viu o jovem a bater na porta de uma casa. “Ouvi alguém a gritar: ‘Socorro, socorro, levei um tiro!”, recordou.
James correu para o exterior da casa, pulou a cerca, correu pelo quintal de um vizinho e atravessou a rua até à entrada da casa de outro vizinho para chegar até Ralph. Quando o jovem recuperou os sentidos, James verificou o seu pulso e perguntou-lhe o nome, idade e onde estudava. Ralph teve dificuldades para responder antes de soletrar o seu nome. Entretanto, uma vizinha chegou até ao local com toalhas e esperaram até que os paramédicos chegassem.
Ralph Yarl, que corria risco de vida devido à gravidade dos ferimentos, foi transportado para o hospital. Felizmente, sobreviveu, mas “está a lutar para voltar ao que poderá ser um novo normal”, disse a sua tia no Instagram. O jovem do quadro de honra, com planos de estudar engenharia na faculdade, recebeu alta esta segunda-feira, 17 de abril.
O motivo
Andrew Lester permitiu que os polícias revistassem a sua casa e encontraram sangue na varanda e na rua. A arma também está a ser examinada. O homem foi preso e mantido sob custódia durante 24 horas. Após sair em liberdade, depois de ter prestado depoimento, centenas de manifestantes saíram à rua com cartazes pedindo por justiça. Um dos cartazes dizia: “Tocar à campainha não é crime”.
O octogenário disse à polícia “que era a última coisa que queria fazer, mas que estava ‘a morrer de medo’” devido ao tamanho do jovem, à sua idade e a incapacidade que tinha de se defender, de acordo com a denúncia criminal. O The Washington Post cita que ele estava “visivelmente perturbado e expressava repetidamente preocupação com a vítima”.
Já a família do jovem tem outra visão sobre o motivo: dizem que a reação do proprietário da casa foi motivada por questões raciais, alegação esta confirmada pelo procurador Zachary Thompson. “Houve componente racial neste caso”, disse. A polícia também tinha admitido existirem “fatores raciais”, embora não haja indícios que o provem.
Andrew Lester irá responder pelo crime de agressão e por ato criminoso com arma de fogo, sendo que uma destas acusações pode corresponder a pena de prisão perpétua.