Steven D’Achille perdeu a mulher, Alexis, em 2013. Tudo aconteceu num espaço de seis semanas entre o nascimento da filha do casal, Adriana, o dia mais feliz da vida deste pai, e a morte da esposa, o pior dia da sua vida. Como lidar com esta tragédia? Steven, que vive na Pensilvânia, abriu um centro de tratamento hospitalar e já ajudou 6 mil mulheres.
Para perceber a história por trás é necessário voltar ao passado. Quando Steven conheceu Alexis numa festa em 2008, a atração foi instantânea. “Nós cruzámos olhares e, a partir de então, éramos inseparáveis”, disse recordou Steven à revista People. Casaram um ano depois e a gravidez foi tranquila. “Ela estava radiante e todas as outras coisas que se ouve sobre as mulheres grávidas”, disse.
As coisas começaram a desmoronar quando Alexis deu à luz no passado dia 30 de agosto de 2013. O parto foi assustador: o código do cordão umbilical de Adriana foi enrolado várias vezes no seu pescoço. A bebé nasceu saudável, mas o seu nascimento desencadeou uma depressão pós-parto, incluindo pensamentos suicidas e alucinações, e depois psicose pós-parto, uma doença mental rara e pouco conhecida que provavelmente estava relacionada ao histórico familiar de transtorno bipolar de Alexis.
“A minha esposa acreditava que o seu primeiro ato de ser mãe estava a prejudicar a sua filha. Ela simplesmente desmoronou. Foi imediato e cada dia era pior que o outro”, explicou. Alexis recebeu antidepressivos prescritos pelo seu obstetra, mas os seus sintomas persistiram. “Ela começou a pensar demasiado em tudo. Ela ouvia choros de bebés fantasmas, então não conseguia dormir. Ela não comia. Ela perdeu 22 quilos em cinco semanas e meia”, contou.
No momento em que Steven ouviu a sua filha chorar e percebeu que a sua esposa não estava com a bebé, sentiu que algo terrível tinha acontecido. E tinha razão. Pouco minutos depois descobriu que Alexis, de 30 anos, tinha tentando suicidar-se. Dois dias depois, no dia 10 de outubro de 2013, a mulher faleceu no hospital.
Desde esse dia que Steven se sentiu compelido a transformar a sua dor em ajudar mães que estão a sofrer como Alexis e incapazes de encontrar a ajuda que precisam. Nos dias anteriores à morte de Alexis, o casal procurou ajuda em sete hospitais diferentes e centros. “Alexis sabia que estava com problemas. Ela foi muito clara com o que ela estava com medo que acontecesse. Mas era sempre: ‘Vá para casa. Não é maluca'”, relembrou.
Em 2018, Steven lançou a Fundação Alexis Joy D’Achille, com o apoio da Allegheny Health Network, para aumentar a conscientização e os fundos para aqueles que lidam com ansiedade perinatal e transtornos de humor. Oferece serviços de terapia e cuidados infantis, entre outras coisas, para mulheres grávidas, recém-mamãs e para as suas famílias. O programa já tratou cerca de 6 mil mulheres.
“É tarde demais para a Alexis, mas a minha filha, se Deus quiser, vai ter filhos um dia, e eu não quero que ela enfrente os obstáculos que enfrentámos. Nós vivemos no melhor país do mundo. Como é que uma nova mãe não recebeu os cuidados que precisava?”, questionou.
Brittany Kenna é uma das mães que Steven ajudou. A mulher lutou contra a ansiedade após o nascimento da sua filha em 2019. “Eu enlouqueci depois de ter a minha filha, mas o psiquiatra de lá [do programa de Steven] ajudou com a minha medicação e terapia”, afirmou.
Agora grávida do seu segundo filho, Kenna está “a tentar ser proativa nesta gravidez e a ver o meu terapeuta no centro quinzenalmente”, explicou. “É bom ter esse mesmo apoio. Eu ainda estaria perdida se não tivesse encontrado o centro”, acrescentou.
De acordo com a People, estima-se que nos EUA uma em cada oito mulheres sofre de depressão pós parto. No entanto, especialistas dizem que há um estigma associado à procura de ajuda. “Quando as famílias dão as boas-vindas a um novo bebé, espera-se que seja um momento alegre, por isso é difícil para uma mãe admitir que está a sofrer”, disse Samantha Meltzer-Brody, psiquiatra e diretora do UNC Center for Women’s Mood Disorders, à revista. “Precisamos apagar o estigma“, acrescentou.
Em homenagem a Alexis, Steven assumiu a missão de fazer exatamente isso. “Tem sido a minha terapia. Eu não quero que a morte da Alexis seja em vão”, destacou.
Peça ajuda.
CONTACTOS
Linha SOS voz amiga. Linha de apoio emocional e prevenção ao suicídio: 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660 (diariamente das 15h30 às 00h30)
Contacte o Serviço de Saúde Mental do Hospital da sua região – Adultos, Infância e Adolescência.
A linha SNS24 (808 242424 e www.sns24.gov.pt) e o 112 também estão disponíveis.
Entre em contacto através das Linhas de Crise e da Linha de Aconselhamento Psicológico.
Para mais informações, consulte o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio.