Imagine passar por uma venda de garagem, olhar para um quadro que lhe chama a atenção e reparar que custa apenas 27 euros. E agora pense que, anos mais tarde, é revelado que esse mesmo quadro tem afinal um valor artístico elevado, e um preço muito superior ao que gastou. Qualquer coisa como oito milhões de euros. Pois bem, esta história é bem real.
Com o título “A Virgem e o Menino”, o quadro trata-se de um desenho renascentista datado de 1503, no início do século XVI, e tem assinatura do pintor alemão Albrecht Dürer. Oficialmente, o quadro foi descoberto em 2019 por Clifford Schorer, um colecionador de arte e consultor de galerias em Boston, nos Estados Unidos. Mas apenas por mero acaso, já que veio a encontrar a peça quando ia a caminho de uma festa, em Massachusetts.
Em declarações à CNN, Schorer referiu que se tinha esquecido de comprar um presente para a festa a que tinha sido convidado, e já a meio do caminho, decidiu fazer um desvio até uma livraria que vendia também itens coleccionáveis. Entre apresentações e conversas com o funcionário da loja, o homem acabou por ser convidado a fazer uma avaliação a um quadro de Dürer que, segundo o livreiro, tinha sido adquirido por um amigo seu.
Curioso com a proposta, o homem mostrou-se disponível, mas foi com “pouca esperança” que concordou em fazer uma análise crítica. Afinal, segundo Schorer não eram descobertas peças ‘de calibre’ deste artista há mais de cem anos .Semanas depois, o coleccionador de arte deparou-se então com um desenho de grande qualidade, afirmando inicialmente ao seu proprietário, que preferiu manter o anonimato, que se tratava da “maior falsificação” que já tinha visto. A análise continuou e essa tese caiu por terra.
Não se tratava de uma falsificação, mas sim de uma obra-prima, bem verdadeira. O desenho foi comprado em 2017 numa venda de garagem de um arquiteto, que tinha recebido o quadro como prenda dada pelo pai, um antigo negociante de arte, e a vendeu por 27 euros, desconhecendo por completo o seu valor real, 326 mil vezes superior.
“Era como estar a [experimentar] uma espécie de choque elétrico”, afirmou Clifford Schorer, também citado pela revista People. “Quando se está neste meu mundo da arte, passamos a vida à procura de elementos desconhecidos, que nos levam a fascinantes caminhos de pesquisa… e de repente, foi a sensação de perceber que estava no início de algo extremamente emocionante”, assumiu.
No entanto, desde esta descoberta inicial, em 2019, foram necessários mais três anos de contínua pesquisa, e de várias deslocações para diferentes destinos do mundo, com o intuito de verificar a autenticidade da obra. O processo incluiu ainda uma discussão entre os melhores especialistas do Museu Britânico de Londres, em dezembro de 2021, onde o processo ficou concluído. Após a análise técnica da idade deste desenho, ficou comprovado tratar-se de uma das peças do espólio renascentista de Dürer, a valer “cerca de oito dígitos”, e apontada para custar mais de 8 milhões de euros.
De acordo com a AgnewsGallery – a casa de leilões de Londres, já com a posse desta obra – o seu autor, Albretch Dürer, que morreu em 1528, é considerado o maior artista alemão do seu tempo, e um dos intelectuais mais importantes do Renascimento Europeu. Também Clifford Schorer concluiu que “é justo dizer que Dürer é um dos maiores grafistas que já existiram, um verdadeiro pioneiro da gravura e do desenho. Foi um dos maestros das obras a preto e branco, tendo inspirado artistas de todo o mundo”, nas suas declarações à CNN.