Depois de ter conquistado mais de 300 mil pessoas em Portugal, o musical CATS está de regresso a Portugal, em fevereiro de 2023, em Lisboa e no Porto (atenção que há uma sessão especial para escolas). O site da SIC Mulher esteve à conversa com parte do elenco e até assistiu à maquilhagem exímia de duas personagens.
Segunda e terça-feira e só mesmo isso. Eram os únicos dias disponíveis que tinham os quatro membros da equipa para fazer a promoção em Portugal, dada a sua intensa agenda. Chegaram de Estocolmo, Suécia, há menos de dois dias e receberam a imprensa na Residência do Embaixador do Reino Unido, em Lisboa.
Hal Fowler, que interpreta os gatos Asparagus e Bustopher Jones, assume que nem sempre sabe onde está. É isso mesmo, leu bem. “No início da digressão sei sempre porque temos tempo de ir a um museu, passear, mas depois… Não sei em que país estou. ‘Estou com frio, então devo estar na Escandinávia’. O momento em que sei onde estamos é quando estou vestido da personagem. Sinto-me em casa, o resto desaparece“, nota.
Tinha 13 anos quando viu o espetáculo pela primeira vez e emocionou-se com uma música em particular. No fim da sessão, foi a correr comprar o disco da banda sonora. Hoje vê-se a cantar todas as noites a mesma música, do gato Gus, 41 anos depois.
“Nunca tinha visto nada assim. Fui numa viagem da escola e lembro-me de olhar diretamente para um dos gatos e sentir a magia deste mundo [do musical]. Quando surgiu a oportunidade de fazer uma audição para isto … bem, é um grande momento regressar ao menino de 13 anos que fui”, indica, orgulhoso.
Tal como Hal, Carrie Willis integrou o musical em abril deste ano. É bailarina e também swing, isto é, tem de estar preparada a qualquer momento para assumir sete papéis diferentes – os seus passos, voz, músicas e maquilhagens- se houver alguma baixa no elenco.
“Sei sempre de antemão. Ás vezes não faço uma personagem há meses e depois tenho de a estudar. Umas vezes adoro o desafio, outras penso ‘por que estou a fazer isto?’”, conta Carrie que viaja sempre um com um caderno com todas as anotações sobre cada papel. “Preciso de ter os meus momentos, aquecer a minha voz específica para esse papel específico”, exemplifica.
Carrie diz que todas as noites são mágicas e extenuantes. E encontra novas formas de a fazer. O cansaço, e a digressão longa gera, por vezes, alguns momentos em palco que o público não nota. “Surgem letras mais ‘engraçadas’ ou uma crise de identidade, como swing, em que não sabemos quem estamos a ser no momento”, adianta.
Às vezes belisca-se para saber que está mesmo no CATS. Carrie é dance captain, certifica-se que todos fazem alongamentos e, ao lado de Dane Quixall, num espetáculo ‘muito físico’, garante que a coreografia é limpa e precisa.
Hal e Carrie maquilham-se para as suas personagens que demora, em média, uma hora e meia a ficar pronta, já com peruca e roupa. Hannah McGregor (na imagem acima) também está presente – fica fora das objetivas, já que não é fã de entrevistas – é ela que trata das perucas e look dos atores e bailarinos, que só podem surgir, seja em palco ou na TV, com a sua aprovação.
Dane Quixall trabalhou como swing no musical durante oito anos, passou praticamente por todas as personagens masculinas e algumas femininas, quando atrizes/bailarinas ficavam doentes. “O meu corpo não fazia as mesmas coisas todas as noites, uns são mais cantores, outros mais bailarinos e outros mais acrobáticos. E deu-me longevidade porque há muita liberdade neste espetáculo”, comenta, o agora diretor residente do espetáculo.
Em vez de olhar para a sua atuação, pensa agora no papel de todos. “Há alguém doente ou com uma lesão esta noite? O que preciso de dizer a todos para todos fazerem o melhor espetáculo como um tudo e que mantenha a identidade do original”, comenta.
Durante a conferência não fugiu à inevitável questão sobre o filme CATS (2019) de Tom Hooper que, além dá receção da crítica e da audiência, se revelou um flop de bilheteira. “Podia ter sido incrível”, começa por dizer. “O que tentamos fazer no espetáculo é diluir o óbvio. Não fazemos caricaturas, tentamos ser o mais possível como os gatos que encontras na rua. Não incluíram ninguém que teve a ver alguma coisa com a produção original. Pareceu apressado, eles tinham sapatos, tinham mãos. Podia ter sido algo maravilhoso… rapidamente se tornou num humor barato”, avançou sobre o filme que se tornou uma piada nas redes sociais.
“Eu estou bem, não preciso de falar”, disse Carrie, cuja expressão parece representar o mesmo embaraço sobre o filme, provocando alguns risos na conferência de imprensa.
Como se pode ser um gato?
Segundo Dane, antes do Youtube, o elenco deslocava-se ao jardim zoológico e estudava o comportamento de leões. Hoje, além de todos os vídeos disponíveis, fazem workshops também. “Atualizamo-nos na forma como o nosso pescoço, coluna e olhos se têm de mexer para sermos o mais fiéis possível”, descreve.
O diretor e bailarino sublinha que o espetáculo é sobre aceitação, perdão e família e que nunca se cansa intelectualmente na sua função. “Há algo muito humano em cada uma das personagens. Os detalhes da maquilhagem, da realização, da coreografia. Tudo tem uma intenção. Não acho que há outro espetáculo igual” sublinha.
E será que estes cats gostam mesmo de gatos?
“Não contes a ninguém”, segreda Dane, em entrevista. “Eu não gosto de gatos. Tenho cães em casa e não me consigo imaginar com um gato, são muito bipolares. Se chegamos a casa, sabemos que o cão está mesmo interessado em ver-nos, os gatos nem tanto”, brincou.
CATS é um musical sobre a vida de um grupo de gatos, os seus amores, sonhos, desencantamentos e que é arreliado com o regresso de Grizabella, a gata que saiu do seu núcleo para ver o mundo de lá de fora. Será ela aceite?
Os bilhetes estão à venda nos locais habituais. Lisboa, no Campo Pequeno, recebe o musical entre 14 e 19 de fevereiro e o Porto, no Super Bock Arena, acolhe os felinos a 22 e 26 do mesmo mês. Na mesma cidade, há uma sessão com crianças, só para escolas.