Parece demasiado bizarro para ser verdade, mas a história é real e surgiu novamente esta semana nos meios de comunicação por ser surpreendente e insólita. Tudo começou quando Lydia Fairchild pediu ajuda ao governo do estado de Washington, nos Estados Unidos. Na altura, a mulher estava desempregada, preparava-se para ser mãe do terceiro filho e estava separada do ex-marido, Jamie Townsend.
Parte da burocracia exigia que Lydia, Jamie e os dois filhos realizassem um teste de ADN para provar os laços familiares. E foi aí, em dezembro de 2002, que o pesadelo genético teve início: a vida de Lydia, que na altura tinha apenas 26 anos, foi virada do avesso depois de ter sido recusada a ajuda e correr o risco de perder a guarda dos filhos.
Mas afinal o que aconteceu? É que o teste de ADN confirmou que Jamie era o pai biológico das crianças, mas Lydia não era a mãe biológica. Provar quem era não foi tarefa fácil. “Eles começaram a encher-me com perguntas do género ‘Quem é você?’”, contou, em entrevista à ABC em 2006. Os funcionários do estado pensavam que estavam perante um caso de sequestro de crianças e uma das assistentes sociais chegou a ameaçar tirar-lhe os filhos.
Quando Lydia foi mãe do terceiro filho e realizaram outro teste, descobriram que também não era a mãe biológica da criança que tinha acabado de dar à luz. Como é que isto era possível? Na altura, o ADN era considerado uma evidência definitiva, acima de qualquer questão.
Quando parecia ser um caso perdido, surgiu uma luz ao fundo do túnel: os advogados de Lydia – que levou a situação a tribunal – descobriram um caso semelhante ao seu. Tratava-se de Karen Keegan, que na altura tinha 52 anos e só descobriu que havia uma anormalidade quando precisou de um transplante de rim, o que fez com que todos os familiares fizessem testes de ADN para verificar se poderiam ser dadores. “Era um mistério médico”, afirmou a patologista Lynne Uhl.
A explicação
O mistério foi desvendado quando Karen recordou que há uns anos tinha tirado nódulos da tiróide. Sugeriu que o teste de ADN fosse feito nesse nódulo, que por coincidência era onde estava o código genético relacionado ao dos filhos. Resultado: confirmou-se que era a mãe biológica.
De acordo com documentário Chimera: The Twin Inside Me [“Quimera: O gémeo dentro de mim”, em português] tratava-se de uma condição muito rara, com apenas cerca de 30 casos registados. Chama-se “quimerismo“, isto é, uma pessoa que possui no seu organismo as células de duas ou mais pessoas como resultado da fusão de gémeos no útero. Biologicamente, Karen Keegan era mais do que uma pessoa: ela mesma, mas também a sua irmã gémea.
Foi então que Lydia se submeteu a novos exames, retirando o material genético não dos ovários, como nos testes anteriores, mas do colo do útero. Assim, o resultado comprovou que era a mãe das crianças. Durante a sua formação uterina, a mulher terá absorvido parte de uma irmã que também se desenvolvia, mas que não se formou por inteiro: os seus ovários, porém, permaneciam geneticamente como sendo parte dessa irmã que nunca existiu. Lydia Fairchild tinha dois conjuntos diferentes de ADN em si. Biologiamente, Lydia é parte tia e parte mãe das crianças.