A Associação Corações com Coroa (CCC) nasceu há 10 anos e Catarina Furtado, presidente da organização, não podia estar mais orgulhosa. Este sábado, 14 de maio, decorreu no Teatro da Trindade, em Lisboa, o evento de celebração de muitas conquistas assentes na igualdade de género e nos Direitos Humanos. Ao site da SIC Mulher, a apresentadora contou como esta organização mudou a sua vida e como o apoio do marido e dos filhos tem sido fundamental neste projeto.
“A partir do momento em que tomei consciência de que era uma privilegiada, até pela educação que tive – a minha mãe vir do ensino especial e o meu pai [Joaquim Furtado] ser jornalista -, sempre percebi que havia qualquer coisa que poderia ter de fazer na minha vida. Comecei a fazer voluntariado aos nove anos e eu é que pedi à minha mãe. A partir daí comecei logo a perceber que a diferença era a igualdade. Fui-me sempre informando sobre estas temáticas todas, nomeadamente – ou sobretudo – nas questões da desigualdade de género”, começou por contar.
Dez anos depois da fundação da CCC, Catarina Furtado aprendeu que “há sempre coisas a fazer”. “Percebi que ao contrário de outras conquistas que são feitas, como o sistema patriarcal e o machismo. O contrário disso é muito mais difícil de ser conquistado eternamente. Permanentemente estamos a perceber que há retrocessos que podem acontecer e há indícios que vêm de fora também… Populismos, conservadorismos que estão a por em risco as conquistas já feitas e outras que nós deveríamos fazer. Então, temos que ser muito vigilantes e essa é uma grande aprendizagem. Ao longo destes dez anos fui sempre muito vigilante com a minha pequena equipa, mas basicamente o sonho foi concretizado“, explicou.
O APOIO DA FAMÍLIA
O apoio da família acabou por ser fundamental na concretização deste sonho. “É sempre muito mais fácil, obviamente, quando se tem um marido que é feminista, que colabora e que participa, que divide as tarefas. Eu tenho isso no João e tenho muita sorte. Digo-lhe muitas vezes que grande parte do sucesso da CCC foi dessa agilidade. Tenho um suporte”.
João Reis esteve presente neste dia especial e não escondeu o orgulho que sente pela mulher: “É um projeto que me acompanha também desde sempre. Muitas vezes as preocupações da Catarina acabam também por entrar na nossa casa e para os nossos filhos. Mas depois é muito comovente e muito gratificante ver que, ao fim de dez anos, houve muita coisa bonita e boa a ser feita e que tem todas as condições para continuar a crescer e eu espero que continue”.
Catarina Furtado e João Reis estão casados há 16 anos e têm dois filhos em comum: Maria Beatriz, de 15 anos, e João Maria, de 14. “Eles não têm outra hipótese. Eles podem ser o que quiserem na vida, exceto más pessoas e com valores deturpados, egoístas e centrados e umbiguistas e ambiciosos, demasiado gananciosos e vaidosos demais… Isso não podem ser e, portanto, estão a ser educados com uma política muito humanista, de empatia, de tolerância“, disse a apresentadora.
10 ANOS DE CORAÇÕES COM COROA
Recorde-se de que a Corações Com Coroa nasceu em 2012, a partir do compromisso de Catarina Furtado, enquanto Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), e surgiu para “apoiar, informar e capacitar” raparigas e mulheres.
O evento dos 10 anos deu lugar à reflexão sobre temáticas da CCC, urgentes e importantes, e contou com a presneça de Dino Santiago, Salvador Martinha, Tiago Bettencourt, Cláudia Pascoal, Bárbara Tinoco, entre outros nomes nacionais, bem como a escritora moçambicana vencedora do Prémio Camões 2021, Paulina Chiziane, para uma conversa sobre igualdade de género e direitos das mulheres.
“Os números estão aí e dizem o nosso trabalho. Somos uma pequena equipa. São mais de 5500 atendimentos ao longo destes anos, mais de 500 mulheres empoderadas, capacitadas e autónomas, 34 bolseiras, mais de 7800 alunos e alunas que foram tocados e sensibilizados para as questões da violência do namoro e do bullying, mais de 31 eventos no CCC Café, um projeto social que está a auto sustentar-se, dá emprego feminino e são oito postos de trabalho com contrato. É o meu sonho concretizado. Eu queria ter uma empresa, mas não uma empresa que lucrasse, queria que o lucro estivesse espelhado na autonomia das mulheres“, concluiu Catarina Furtado.