A Steffy não lhe falta coragem. Ninguém pode perceber melhor a dor do seu irmão Carl, que cometeu suicídio aos 12 anos, que ela mesma. É nas redes sociais que relata o horror que o seu pai terá feito toda a sua família passar.
Nas mais recentes publicações no Twitter, a jovem de 25 anos, de La Ciotat, em França, revela que “há 17 meses que a memória do irmão foi desrespeitada”. E a história é realmente perturbadora.
Aos 11 anos, Steffy – que é a mais velha de quatro irmãos – encontrou forças para falar com a mãe sobre ser abusada sexualmente pelo pai. Apenas dois anos depois, o caso é levado à justiça e o abusador recebe pouco mais de um ano de prisão.
Segue-se o divórcio dos pais em 2011. Infelizmente, “o juiz do tribunal de família emitiu medidas provisórias” e Carl teve que continuar a ver o pai aos fins de semanas e alguns feriados. “Quando ele voltou, ninguém poderia imaginar o que ele estava a esconder”, disse Steffy no vídeo abaixo e citada pela Oh! My Mag. No entanto, em 2015, o menino quebrou o silêncio sobre ser abusado sexualmente pelo pai, citando “banho forçado com adultos nus”. A mãe dos dois acreditou nele e tentou denunciar, mas em vão. Posteriormente, desistiu quando Carl ameaçou repetidamente tirar a própria vida.
No dia 8 de abril de 2019, alguns dias antes do aniversário de Carl, Steffy recebeu uma chamada onde lhe é dito que a mãe cometeu suicídio. “Começa o inferno”, recordou a jovem, que conseguiu a guarda do irmão aos 22 anos. Uma batalha legal começa, a jovem obtém oficialmente a guarda do seu irmão em primeira instância, mas o seu pai persiste e apela de todas as decisões. Carl tem pesadelos, por medo de voltar para o pai, e no dia 29 de junho de 2021 Steffy encontra-o enforcado na entrada da sua casa.
Hoje, a jovem de 25 anos deseja denunciar “as falhas do sistema de proteção à criança” e luta todos os dias para que a sua voz e a de tantas outras vítimas seja ouvida. Para honrar a memória do seu irmão mais novo, mas também para que ninguém volte a passar pela mesma experiência, Steffy decidiu criar a Association Carl, que pretende combater a violência intrafamiliar mas também abrir o debate sobre o poder parental.
Ao La Provence, a jovem explica que, quando obteve a guarda de Carl, o pai já não tinha o direito de vê-lo fora das audiências no Tribunal de Menores de Marselha. No entanto, ele manteve a sua autoridade parental, que usava para marcar a sua posição diariamente. “Como explicar que um pai condenado por agressão sexual à filha mantém autoridade?”, questionou.
Apesar de todos os esforços de Steffy, nada era simples: levá-lo a uma viagem, matriculá-lo na escola, ir ao médico. “Precisava da assinatura dele para tudo, e era muito complicado conseguir uma resposta dele”, contou.
“Em setembro [2020], o meu irmão menor denunciou o que sofreu à justiça. (…) No entanto, até ao momento, a polícia ainda não ouviu falar do nosso pai após esta denúncia. (…) Ele teve coragem de testemunhar, perguntava-me constantemente se o nosso pai tinha sido ouvido pela polícia, sofreu muito… Os juízes de menores, o seu advogado, a sua educadora e eu, tentámos tranquilizá-lo… Em vão”, disse.
De acordo com uma publicação de Steffy no Instagram, “1 em cada 10 crianças é vítima de incesto em França. 4 em cada 10 vítimas tentam o suicídio. 1.000 condenações por ano em França para 160.000 crianças vítimas de incesto”.
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