Uma campanha do governo espanhol, através do Instituto das Mulheres, tinha um objectivo: encorajar mulheres de todas as formas e tamanhos a terem orgulho dos seus corpos. Mas “o tiro saiu pela culatra” e está a gerar uma onda de indignação.
“O verão também é nosso”. Esta é a frase que está sobre a imagem que mostra cinco mulheres com diferentes tipos de corpos e idades. Uma delas, Juliet Fitzpatrick, sobrevivente de cancro, disse ao The Guardian que o corpo que está aposto ao seu rosto não pode ser o seu. Razão: fez duas mastectomias, uma em março de 2017 e outra em novembro de 2018, e desde então faz campanha sobre a visibilidade das mulheres que tiveram os seios retirados.
“O rosto é uma reminiscência de mim, mas aquele não é o meu corpo. Eu não tenho mamas, e este corpo da imagem tem uma. O pensamento de meu rosto estar em um corpo de uma mulher com uma mama é bastante perturbador”, afirmou. E mais: a imagem foi usada sem o seu consentimento. Mas não foi a única lesada.
Sian Green-Lord é outra das mulheres que surge na imagem promocional. A modelo recorreu às redes sociais para falar sobre o facto de terem “apagado” a sua prótese numa perna. “Esta foto já não me representa mais a divertir-me com os meus amigos… Agora deixa-me extremamente triste! Desde que descobri na última sexta-feira o que foi feito com a minha imagem, a minha confiança está em baixo (…) A minha perna não é nada para me envergonhar! É um produto de força, resiliência e independência“, escreveu na legenda da fotografia original.
De acordo com o jornal britânico, o ministério da Igualdade disse que enviou um email a Juliet Fitzpatrick, a Sian Green-Lord e a Nyome Nicholas-Williams, a primeira das três mulheres a contestar que a sua imagem tinha sido usada sem o seu consentimento. “Não sabíamos que tinham sido usadas imagens de mulheres reais. Pedimos sinceras desculpas por quaisquer danos que possam ter sido causados. O objetivo da nossa campanha é reconhecer a diversidade corporal em todas as suas dimensões, e ficaremos felizes em colaborar em qualquer ação que reflita isso mesmo”, cita o The Guardian.
No entanto, Nyome recorreu esta terça-feira, 2 de agosto, à sua conta de Instagram que a entidade governamental só pediu desculpa a uma das queixosas. “Portanto, o governo espanhol só pode pedir desculpas a Juliet, que é uma mulher branca. Mas aparentemente Sian e eu não temos direito a um? Sim, tudo bem! Eles também disseram na sua “declaração” que entraram em contato com todas nós, não o fizeram”, lê-se.
A campanha foi lançada e promovida nas redes sociais pelas ministras que fazem parte do partido Podemos, que integra a coligação de esquerda que governa em Espanha. A ministra que tutela o Instituto das Mulheres e que tem a pasta da Igualdade no Governo, Irene Montero, transformou-se no principal alvo das críticas nas redes sociais.
Horas depois do lançamento da campanha, na quinta-feira, a hashtag #IreneMonterodemite (“Irene Monteiro, demite-te”) entrou nas tendências do Twitter em Espanha com mensagens de ódio contra a ministra.