Ava Majury é uma das milhares de jovens que se rendeu ao TikTok na pandemia. Tinha 13 anos quando começou a fazer lip–sync e a dançar ao som de músicas trendy. Um ano depois tinha mais de um milhão de seguidores, tornando-se um sucesso na plataforma e, consequentemente, um alvo para um fã obcecado, EricJustin111.
Em entrevista ao New York Times, Ava contou o pesadelo que viveu. Tudo começou no início de 2020, quando a influencer reparou que Eric estava a tentar chamar a sua atenção em comentários no TikTok, chegando mesmo a enviar-lhe várias mensagens no Snapchat e no Instagram e a aparecer em jogos online que Ava tinha por hábito jogar com os irmãos, Evan e Logan, de 17 e 11 anos, respetivamente. Inicialmente, a adolescente respondeu-lhe algumas vezes: “Eu costumava responder aos meus fãs, do género: ‘Olá, como foi o teu dia?”, disse.
Entretanto, Ava soube que amigos estavam a vender fotografias suas, assim como informações pessoas como o número do telemóvel, a Justin, que tinha 18 anos. Numa outra ocasião, o jovem fez os trabalhos de casa de um colega de Ava para obter mais informações sobre a influencer.
No entanto, com a permissão dos pais, Ava vendeu algumas selfies suas, que já tinha publicado no Snapchat, a Justin. “Eu não estava a enviar nada do meu corpo. Eram apenas fotografias do meu rosto. A minha cena toda é o meu lindo sorriso – esse é o meu conteúdo”, esclareceu, referindo que Justin pagou cerca de 264 euros por duas fotografias.
Das selfies de rosto, Justin começou a pedir “coisas que uma miúda de 14 anos não deveria enviar”. Foi aí que Ava decidiu bloqueá-lo em todas as redes sociais, mas Justin implorou para que o desbloqueasse, enviado dinheiro. Os pais da influencer decidiram intervir e enviaram uma mensagem ao adolescente a pedir que não entrasse mais em contacto com a filho e a sublinhar que esta era menor de idade.
Os avisos foram em vão. No dia 10 de julho, Eric Rohan Justin invadiu a casa onde Ava vivia com a família em Nápoles e utilizou uma espingarda para disparar na porta da frente da residência. “Tudo o que me lembro é que ouvi, senti no meu peito, olhei para cima e havia um buraco na minha porta dos fragmentos”, recordou. Ava e os irmãos correram para o fundo da casa.
O pai da jovem, Ron Majury, um polícia reforçado, saiu da cama e correu a gritar para a vizinhança, enquanto a esposa, Kim Majury, ligava para o 112. Do lado de fora estava um adolescente a usar o que parecia ser um colete azul dos trabalhadores do Walmart, protetores de ouvido e óculos de segurança. A arma encravou e foi aí que Ron começou a correr atrás dele, mas caiu, cortando o joelho, e Eric fugiu. Ron agarrou na sua arma e ficou à espera da polícia, mas entretanto Eric regressou e apontou-lhe a espingarda. Apesar da tentativa para que o adolescente largasse a arma, este não o fez e o pai de Ava disparou. Eric Justin acabou por morrer e a polícia encontrou milhares fotografias de Ava no seu telemóvel.
Ataque planeado
Eric enviou mensagens a um dos colegas da infuencer a perguntar se tinha acesso a uma arma, partilhou os planos para a atacar e escreveu o seguinte: “Eu poderia simplesmente arrombar a porta com uma espingarda, penso eu”. E foi exatamente isso que tentou fazer.
Quando Ava soube das mensagens, ligou para o colega que as recebeu e ele confirmou que as tinha recebido e reencaminhou outras. Com receio, mostrou ao pais, que pesquisaram a identidade do jovem, viram que este morava a centenas de quilómetros de distância, e pensaram que era apenas um jovem atrás de um teclado. Enganaram-se.
Hoje, Ava Majury continua ativa no TikTok, onde ganha milhares de euros em patrocínios e já atraiu o interesse de Hollywood. “As suas criações, os seus contactos, os seus vídeos tornaram-se uma parte tão grande dela que seria difícil tirá-los”, disse o pai. “Escolhemos o que é melhor para a nossa família. Sabemos que haverá dois lados e algumas pessoas não vão entender”, disse a mãe de Ava, acrescentando que não queria que “indivíduos doentes” forçassem Ava a sair da plataforma.