Este domingo, 12 de março, decorreu a 32.ª edição da Meia Maratona de Portugal. Dentro desta prova existe a Mini Maratona, e ao contrário do que acontece há 20 anos, pessoas de cadeiras de rodas não puderam participar. Este impedimento gerou muita indignação e levou a dois comunicados por parte da organização.
Miguel e Pedro Ferreira Pinto, os irmãos fundadores do Iron Brothers, um projeto de luta pela inclusão, denunciaram a situação nas redes sociais. “Hoje o impensável aconteceu”, começaram por escrever na sua conta de Instagram.
“Quando as cadeiras da APCL [Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa] estavam a descer das carrinhas, para os utentes e voluntários participarem na Mini Maratona, como já é tradição da associação há mais de 20 anos, o Diretor de prova, no local, deu indicação à PSP para o impedir, dizendo que estavam proibidas as cadeiras de rodas na prova”, recordaram.
“No século XXI isto é absolutamente inadmissível e é uma violação gritante do princípio da igualdade. É uma discriminação vergonhosa de pessoas com deficiência, quando andaram a publicitar a prova como inclusiva (…) A participação é um direito e é crime discriminar em função de uma deficiência! Que vergonha!”, acrescentaram.
Fernando Pimenta, Catarina Furtado, Francisco Macau, Júlia Palha, Rochele Nunes, Tiago Teotónio Pereira e Miguel Costa foram alguns dos atletas profissionais e famosos que deixaram palavras de apoio e revolta perante o que aconteceu.
Elsa Farinha, que acompanhou pela segunda vez a APCL à Meia Maratona, também denunciou o que aconteceu através de uma publicação no Facebook e destacou o artigo 27º do regulamento da Meia Maratona de Lisboa de domingo.
“É expressamente proibido a participação de pessoas com animais de estimação, carrinho de bebé, patins, bem como com qualquer outro acessório que não seja utilizado para este tipo de provas”, lê-se. Elsa não quis acreditar no leu: “Seria demasiado ignóbil pensar que uma cadeira de rodas é um acessório ou então deve ser a forma que eles encontraram para discriminar ‘sem discriminar'”, disse.
Entretanto, encontraram um agente da PSP que lhes disse “se estão inscritos e têm dorsais podem participar”. E foi o que fizeram. “Não houve passagem da ponte porque a organização acha que cadeiras de rodas são um acessório (só pode) mas fizemos os quilómetros seguintes”, explicou, agradecendo aos agentes da PSP que encontraram pelo caminho. Já as palavras para a organização do evento são outras: “Foram uma vergonha”, afirmou.
Face ao sucedido, o Maratona Clube de Portugal emitiu um primeiro comunicado onde informou que a proibição de cadeiras de rodas “se deve exclusivamente a questões de segurança”, uma vez que já ocorreram “incidentes graves em edições anteriores”. A organização adiantou ainda que “estas regras foram comunicadas no regulamento das provas e na Sport Expo”, mas ainda assim lamentam “o transtorno causado” aos que não puderam participar.
Num segundo comunicado, esclarecem que os responsáveis pela organização estiveram reunidos com a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa e com o Iron Brothers para “para debater o incidente e garantir que tal não volta a suceder em edições futuras”.
“Em todas as 32 edições da Meia Maratona de Lisboa houve sempre aspetos a melhorar, ninguém é infalível. Infelizmente, problemas de comunicação, alguma falta de sensibilidade dos responsáveis no terreno e as questões de segurança, já mencionadas, contribuíram para um incidente que nunca devia ter acontecido”, lê-se ainda.
Veja os comunicados na íntegra: