Lisa Megginson realizou uma operação de implante vaginal mesh (malha vaginal, numa tradução literal), mas decidiu removê-lo anos depois após sofrer complicações. A sua vida mudou drasticamente e doou “o pedaço de plástico de 25 centímetros” a um museu. Já lá iremos.
Tudo começou em 2006. A mulher de 51 anos, que vive em Kinross, na Escócia, foi a uma consulta por causa de uma bexiga hiperativa, mas foi informada que, por ter quatro filhos, tinha alguma incontinência urinária de esforço e a malha vaginal iria ajudar.
“Tu confias nos médicos, ouves os médicos”, começou por dizer, citada pela BBC. Lisa realizou a cirurgia e ao longo dos anos sofreu uma série de problemas de saúde, mas tudo piorou em 2017 quando caiu de uma cadeira, afetando a sua pélvis. “Duas semanas depois, perdi todos os pelos do meu corpo“, relembrou.
Os profissionais de saúde nunca fizeram uma ligação entre a malha vaginal e a sua perda de pelo no corpo. “Foi difícil porque foi quando eu me perdi. Provavelmente foi quando uma boa parte de mim morreu. Não só eu não me sentia como ‘eu’ [própria], agora não me parecia comigo mesma, então isso foi muito difícil e ainda é”, explicou.
Em 2018, Lisa viu uma reportagem na televisão sobre a campanha ‘Sling the Mesh’ e percebeu que outras mulheres estavam a sofrer complicações. Posteriormente, foi encaminhada para tratamento, mas esperou mais de três anos para remover a malha vaginal no Southmead Hospital, em Bristol, Inglaterra.
No hospital, deu passo incomum de optar por fazer a cirurgia – que aconteceu em abril deste ano – acordada. “Era uma coisa de confiança, precisava de saber e encerrar aquilo. Mas devo acrescentar: não é para os fracos de coração”, sublinhou.
Exposição no museu
Antes de realizar a cirurgia, foi a um museu para saber se a malha vaginal poderia fazer parte da sua coleção. “Iria odiar pensar que estava em algum lugar numa prateleira de um laboratório ou foi descartado”, disse.
“É fantástico de se ver, mas é uma história de terror para mim. Aquele pequeno pedaço de plástico de 25 centímetros devastou a minha vida e a vida da minha família. Não é apenas como se fosse removido e tu ficas bem, eu ainda tenho uma caminhada cirúrgica para continuar e nunca recuperas”, destacou.
O museu Surgeons’ Hall, em Edimburgo, que colocou a malha vaginal em exibição no museu Wohl Pathology, não coleta nenhum novo espécime de restos humanos desde a década de 1990, mas decidiu abrir uma exceção para destacar o que chama de “período significativo na saúde da mulher”.
Intervenção proibida em vários países
Os implantes de malha vaginal foram usados para tratar condições que algumas mulheres sofrem após o parto, como incontinência e prolapso, mas o seu uso foi interrompido na Escócia depois de centenas de mulheres ficarem com efeitos colaterais dolorosos e que mudaram as suas vidas. A intervenção também foi banida na Austrália e Nova Zelândia, sendo que o uso de malha cirúrgica continuará a ser utilizado no tratamento de hérnias, de acordo com um artigo publicado em 2017 no Diário de Notícias.
Lisa Megginson pretende agora consciencializar sobre a intervenção. “Ao ver a minha malha vaginal no museu, espero empoderar as pessoas. Espero que os médicos entrem e olhem para ela. Espero que os pesquisadores também possam usá-la porque isso é importante”, disse, acrescentando que é preciso descobrir o que aconteceu.