Cinco décadas depois da Revolução dos Cravos – que colocou fim à ditadura em Portugal-, são vários os pormenores que escapam ou possivelmente não foram bem assim como se contam. Recorde ou descubra alguns dos momentos que fizeram o 25 de Abril.
1. Os cravos eram para os clientes de um restaurante
Celeste Caieiro, conhecida como Celeste dos Cravos, era empregada de mesa num restaurante da Rua Braamcamp, junto ao Marquês de Pombal. Naquele 25 de Abril cumpria-se o primeiro aniversário do espaço e foram comprados molhos de cravos, para distribuir pelas clientes. O restaurante nem chegou a abrir as portas e o patrão mandou-a para casa, mas para não os deixar a murchar, Celeste levou também cravos e deu um a um soldado, que o colocou no cano da espingarda e assim terá nascido o símbolo da revolução.
2. O significado da sigla PIDE
A Polícia Internacional e de Defesa do Estado nasceu em 1945. No seguimento da II Guerra Mundial, Salazar decide modernizar o aparelho policial secreto, criando a PIDE, que vinha substituir a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. Em 1969, já após o acidente de Salazar, Marcello Caetano tornou-a na Direção-Geral de Segurança, mas pouca coisa mudaria além do nome.
3. Houve sangue
Apesar de ser retratada como uma revolução pacífica, mesmo sem contar com o PREC é necessário recordar que faleceram cinco pessoas já ao final do dia 25 de Abril. Quatro populares, em frente à sede da DGS, quando supostamente dispararam para o ar mas na realidade mataram manifestantes, um deles militar, que estava de férias em Lisboa e acabou por ser o único soldado falecido. Do lado da antiga PIDE também existiu uma vítima mortal, mas que não era polícia: tratava-se de um servente, que tomou a decisão que lhe seria fatal de sair por aquela porta. Tentou fugir a correr e foi baleado.
4. Foi ordenado um bombardeamento ao Terreiro do Paço
A fragata Almirante Gago Coutinho, que naquela madrugada devia ter partido para um exercício da NATO, foi ordenada pelo Estado-Maior da Armada para ficar junto do Terreiro do Paço, que ficaria repleto de militares e civis. Durante a manhã, foi ordenado ao Comandante que abrisse fogo sobre os revolucionários, ordem que não foi cumprida. Chegaria outra mais tarde, desta vez para serem disparados tiros de salva para o ar, mas na fragata existiam apenas munições de combate. Mais uma vez, não cumpriram a ordem, pois facilmente seria criado o pânico. Muitos dos presentes foram acusados de insubordinação, mas o processo seria arquivado.
5. Como se espalhou a notícia pelas zonas rurais?
Apesar do Movimento das Forças Armadas ter tido a preocupação de ocupar vários meios de comunicação e fazer comunicados ao longo do dia, há 50 anos era mais complicado espalhar a informação fora das cidades. O MFA sentiu então a necessidade de enviar representantes a vários pontos do país, de modo que explicassem as mudanças que tinham ocorrido e os planos para o futuro.
6. A liberdade foi imediata para todos?
Apesar da revolução se ter consumado ainda a 25, só nos dos dias seguintes é que se conseguiriam ocupar o Forte de Caxias e depois o de Peniche, libertando os presos políticos. Já o Tarrafal, em Cabo Verde, usado de 1962 a 1974 como campo de trabalho, só veria a sua prisão libertada a 30 de Abril.
7. Tudo começou num furo
Depois de uma reunião, em Outubro de 1973, o capitão Vasco Lourenço deu boleia a Otelo, cujo carro ainda não tinha chegado da Guiné. Tiveram um furo, na Avenida de Berna. Enquanto se trocava o pneu, às duas da madrugada, não é bem claro que o disse primeiro, mas chegam à conclusão que pensam o mesmo: nada se iria resolver com requerimentos e papéis, deviam dar um golpe de Estado e convocar eleições. Pouco depois surgiria o Movimento das Forças Armadas.
8. Podíamos andar a comemorar O Golpe das Caldas
A 16 de março de 1974, uma coluna militar arrancou para Lisboa, saída do regimento das Caldas da Rainha. Seria acompanhada pelos regimentos de Lamego, Mafra e Vendas Novas, mas uma rebelião em Lamego fez com que ninguém quisesse arriscar. Abortaram a missão, mas os das Caldas já iam em Santarém e, apesar de terem voltado para trás, não escaparam a ser detidos. Ficaria conhecido como O Golpe das Caldas.
9. Porquê a 25?
A data não era o mais importante, precisava era de ser entre 22 e 25 de abril (uma segunda e uma quinta-feira). Mais propriamente, teria de ser antes de 1 de maio, para aproveitar a distração dos serviços de informação, que estariam focados nos movimentos das organizações civis. Salgueiro Maia também revelou que o movimento espalhou um boato nas semanas anteriores, para desviar as atenções dos serviços de informação: uma manifestação militar em uniforme, marcada para 2 de maio.
10. A seleção musical
A primeira senha, E Depois do Adeus, interpretada por Paulo de Carvalho, foi transmitida às 22 horas e 55 minutos de 24 de Abril, pelos Emissores Associados de Lisboa. Era assim dada a ordem para as tropas se prepararem e estarem a postos. A escolha da música, que tinha vencido o Festival da Canção desse ano, foi exatamente por se tratar de uma música popular, sem conteúdo político, que não levantaria suspeitas se a revolução fosse cancelada. O sinal de saída dos quartéis foi Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, esta sim, claramente política, mostrava que já não havia volta atrás. Foi emitida à meia-noite e vinte, na Rádio Renascença, escolhida por ter cobertura nacional.