DIRECTOR GERAL DA FÁBRICA DA MUVV | 51 anos
Quando acabei o curso, o meu pai adoeceu, tive de recusar todas as propostas de emprego, voltar para Guimarães e ajudar a minha família. Foi o Álvaro que me deu a mão e um salário. Não me arrependo de nada no meu percurso, porque foi ele que me levou à minha Anabela. Raça da mulher que me dá a volta à cabeça até hoje. Temos os nossos altos e baixos, claro, somos um casal: ‘Fausto, a roupa suja, Fausto os sapatos, Fausto, os empregados merecem um aumento, Fausto, estamos a trabalhar muitas horas’… Reclamar devia ser o apelido da Anabela. No trabalho eu é que mando, mas em casa… Já tive de dormir no sofá por causa da obsessão dela pelo Vitória de Guimarães. Ela vive para aquele clube e quer que eu a acompanhe, mas eu sou do Braga e nem gosto assim tanto de futebol. O que me motiva mesmo são as escavações arqueológicas…
Eu vou explicar: os antepassados da Anabela eram muito ricos, mas com as Invasões Francesas tiveram de fugir para o Brasil e, para não perderem tudo e na esperança de voltar, enterraram os tesouros da família em Guimarães. Esta busca foi passando de geração em geração e ia acabar na Anabela, que não acredita em nada disso, se não fosse eu. Depois do meu sogro morrer, eu fiquei encarregue de procurar o património da família dela. A nossa vida podia melhorar, se calhar, até podia comprar um carro como o do Álvaro, mas a Anabela não quer saber.
A minha companheira nestas andanças é a Joana, a minha filha. Vejam lá que ela até tirou Arqueologia. O meu orgulho. Juntos fazemos expedições e vamos atrás de pistas enquanto a Anabela revira os olhos. Ela só vai acreditar no dia em que nós encontrarmos alguma coisa e nós vamos encontrar, eu tenho a certeza.