Lúcia Duarte não esquece os maus-tratos que recebeu da mãe durante a infância e a adolescência. Desde tenra idade, lembra-se de procurar refúgio em casa de familiares e vizinhos para fugir às agressões e ao ambiente tóxico em que vivia. Cresceu com a mágoa de nunca ter tido uma relação de afeto e proximidade com a mulher que a pôs no mundo, mas tornou-se independente, foi mãe e seguiu com a sua vida.
Por ironia do destino, aos 72 anos, a mãe, a mesma que tantas vezes lhe batera, estava doente e desamparada, sem ter para onde ir. Lúcia tomou uma decisão inesperada: cuidar da progenitora até ao último dos seus dias.
“Nunca olhei para a minha mãe como progenitora. Ela era minha mãe. Fizesse eu o que fizesse, sentisse eu o que sentisse não havia nada que eu pudesse apagar. Eu não podia mudar nada. Senti uma obrigação como filha, não podia voltar as costas a uma pessoa que estava completamente dependente e a sofrer. Não fazia à minha mãe, nem a qualquer outra pessoa. Sendo a minha mãe, tem outro peso”, confessa.