Uma série exclusiva Opto – Veja agora o episódio de estreia
Lúcia dos Santos tinha apenas dez anos quando viveu uma experiência mística que ficaria conhecida na história da religião mundial como Aparições de Fátima. Em 1917, Lúcia e os primos, Francisco e Jacinta, afirmaram ter visto Nossa Senhora enquanto pastoreavam os animais no campo. Lúcia terá sido a única a falar com a Virgem, tornando-se involuntariamente na Guardiã do Segredo.
As aparições aos três Pastorinhos culminaram com o Milagre do Sol, ocorrido a 13 de outubro de 1917, na Cova da Iria, precisamente conforme havia sido predito pelas crianças. Assistiram ao fenómeno milhares de pessoas que testemunharam ter visto “o sol a bailar” ao meio-dia, como registou na ocasião o jornalista Avelino de Almeida.
A natureza do acontecimento mantém-se disputada. Contudo, durante a revelação de 13 de julho do mesmo ano, Lúcia pediu a Nossa Senhora uma prova irrefutável da veracidade das aparições, respondendo-lhe a Virgem que aguardasse até 13 de outubro pela demonstração dos prodígios. E assim foi. Apesar de alguns defenderem que o fenómeno poderá ter sido de origem meteorológica, ou até mesmo uma sugestão coletiva, ficou no registo da história como uma manifestação divina.
À época, Portugal mergulhara numa conjuntura social, económica e política dramática. À austeridade da pobreza aliaram-se surtos de tifo, varíola, gripe pneumónica e a contestada participação nacional na I Grande Guerra. A República dava os primeiros passos, deixando lastro para o anticlericalismo e beliscando o poder da Igreja num país rural, analfabeto e devoto. Num primeiro momento, o relato milagroso das crianças começou por ser mal recebido por todos. O Patriarcado de Lisboa chegou mesmo a proibir a participação do Clero nas manifestações. Anos mais tarde, o culto foi legitimado pela Igreja e profusamente usado como arma contra a laicização de Portugal. Mas esperaríamos até 1930 para que o Bispo de Leiria desse crédito às aparições. Fátima consolida-se então como arena ideológica e simbólica do Estado Novo, regime político dirigido por António de Oliveira Salazar, assente no tripé Deus, Pátria e Família.
Por essa altura, já os primos de Lúcia haviam morrido com pneumonia, e a jovem vidente encontrava-seencerrada numa de várias instituições religiosas que, ao longo da sua vida, a mantiveram longe dos olhares curiosos dos fiéis.
Lúcia, A Guardiã do Segredo interpola a ação entre o início do Século XX e a década de 80, permitindo recuperar todo o trajeto da menina por detrás da figura religiosa. Foi detida, submetida a cruéis interrogatórios, separada da família, impedida de estudar e cerceada do direito à própria identidade.
Lúcia a tudo resistiu, mantendo a sua história e as suas convicções.
Madalena Albuquerque, a jovem que se cruza com a vidente de Fátima nesta narrativa, é um espelho invertido de Lúcia. Proveniente de uma família abastada, Madalena teve a oportunidade de estudar medicina e fazer as suas escolhas com toda a liberdade. Contudo, aos 22 anos, apaixona-se por Francisco e vê a sua liberdade roubada pelo pai, Eduardo, um homem extremamente conservador e autoritário que não aceita a relação amorosa da única filha com um rapaz abaixo da sua condição social. Helena, a mãe, tem pena de Madalena mas não consegue arranjar coragem para enfrentar o marido e travar a sua ira.
Determinado a acabar com o romance, Eduardo afasta Francisco do caminho de Madalena, fazendo com que ela acredite que foi usada e abandonada pelo homem que ama. Sem chão, e vendo os planos que fizera com Francisco desvanecerem-se por completo, Madalena cai numa depressão profunda e decide procurar refúgio no Carmelo de Santa Teresa, onde ficará a salvo da obsessão do pai. É recebida pela tia Rosário, irmã de Eduardo, e Madre Superiora do Carmelo.
Proscrita pela família, o Carmelo faz-se-lhe ínvio também. A presença de uma jovem impura, misteriosa, independente e um tanto orgulhosa apesar da reclusão, resulta num clima de suspeição e desdém por parte de algumas das religiosas. E se o parentesco com a Madre Rosário acalenta as teorias iniciais de favorecimento a Madalena no Carmelo de Santa Teresa, é a inesperada relação de cumplicidade que entretanto cria com a Irmã Lúcia – a vidente de Fátima – que torna Madalena um alvo.
Com Lúcia, a vida desfeita de Madalena reconstrói-se. Por sua vez, com Madalena, a vida subsumida de Lúcia ganha um novo sentido.
Será através da amizade que nasce entre estas duas mulheres que vamos conhecer a figura fascinante de Lúcia e o mundo no final dos anos 80.
Que segredos ainda esconde a Guardiã? Terá Lúcia revelado toda a verdade sobre as aparições durante as incontáveis diligências da Cúria Romana? Mesmo com a segurança da sua posição, enquanto vidente de Fátima, Lúcia enfrenta suspeitas quanto à integridade das revelações ao Vaticano. A tentativa para aceder à absoluta verdade será implacável. Intriga, poder, traição, vidas em risco. Ninguém sabe por quanto tempo Lúcia e a misteriosa parte do segredo por revelar estarão a salvo.
Revisitar a história de Lúcia e do fenómeno das aparições de Fátima faz ainda mais sentido numa altura como esta, em que se aproxima a visita oficial do Papa Francisco a Portugal, que acontecerá em Agosto de 2023. O processo para reconhecer Lúcia como Beata está em marcha desde 2008, tendo sofrido um abrandamento durante os anos de pandemia. No entanto, adensam-se rumores no seio da Igreja Católica sobre a possibilidade da visita do Santo Papa a Portugal ser finalmente o momento para a tão aguardada beatificação de Lúcia.